As impressões de Maria Graham:
Homens incultos e mulheres descuidadas.
Texto de Nelson Cadena
O desenho que ilustra este post é de Maria Graham, retrata a Igreja de Santo Antônio na Barra, vista da roça, quando esteve na Bahia nos idos de1821 que lhe pareceu numa primeira impressão “um dos mais belos espetáculos que jamais contemplei”. Referia-se à bela entrada da Bahia no raiar do dia, mas logo teria uma outra impressão ao desembarcar no cais: “A rua pela qual entramos através do portão do arsenal… é sem nenhuma exceção o lugar mais sujo em que eu tenha estado”.
Maria Graham escreveu um diário onde fez minuciosas observações de sua estadia no Brasil. É um relato que recomendo a qualquer pessoa pela inteligência de seus comentários e ainda que muitos historiadores se sintam incomodados com a sua franqueza, não há em Maria Graham nenhuma intenção de denegrir, nenhum preconceito de raça, pelo menos aparente. Tal vez tenha sido um pouco rigorosa em função de sua cultura e educação refinada, estabelecendo parâmetros e critérios de exigência muito além de nossa realidade cotidiana.
Em Salvador foi recebida por várias famílias portuguesas, nobres e funcionários públicos de alta representação e foi nesses casarões que a futura confidente da Imperatriz Leopoldina, reparou na sujeira das casas, na pouca cultura dos homens e nos hábitos relaxados das mulheres quanto à sua aparência. “As casas, na maior parte, são repugnantemente sujas” observou, descrevendo o ambiente: “o andar térreo consiste em celas para os escravos, cavalariças, etc, as escadas são estreitas e escuras… Gravuras e pinturas, as últimas os piores borrões que nunca vi, decoravam geralmente as paredes”.
Com as mulheres foi inclemente: “Como não usam coletes, nem espartilhos, o corpo torna-se quase indecentemente desalinhado, logo após a primeira juventude”, seguramente reparando nas barriguinhas e nos seios flácidos. E continua: “Cabelos pretos mal penteados e desgrenhados, amarrados inconvenientemente, ou, ainda pior, em papelotes, e a pessoa toda com aparência de não ter tomado banho”. Conclui seu relato sobre as mulheres da sociedade baiana: “Não vi hoje uma só mulher toleravelmente bela. Mas quem poderá resistir à violenta deformação como a que o sujo e o desleixo exercem sobre uma mulher? “.
Maria Graham não teve a mesma convivência com os homens, mas nos jantares de que participou observou que “os homens portugueses tem todos aparência desprezível. Nenhum parece ter qualquer educação acima da dos escritórios comerciais e todo o tempo deles é gasto, creio eu, entre o negócio e o jogo”. Reparou no “estado de educação tão baixo que é preciso mais do que o talento comum e o desejo de conhecimentos para alcançar um bom nível”.
Mas surpreendeu-se numa reunião social à noite quando encontrou algumas das senhoras desalinhadas que virá durante o dia vestidas à moda francesa: “Tive grande dificuldade em reconhecer as desmazeladas da manhã de outro dia”. Em que pese suas observações sobre a sociedade baiana, Maria Graham descreveu Salvador como “uma cidade magnífica de aspecto”. E andando pelas ruas da Graça encantou-se com o visual: “Passeamos antes do almoço através de uma paisagem tão bela que aspirávamos por um poeta, ou um pintor a cada passo”. Não resistiu e ela própria desenhou uma árvore nos jardins da Graça,hoje da coleção do Museu Britânico.
Tenho livro da Maria Graham na edição original de 1824. O comentário do Friday 19th (p.135). da parte debaixo da casa "the lower story usually consist of cells for the slaves stabling. é correto, porém não podemos esquecer que ela vinha do UK, o pai era almirante assim como o marido e ela vivia no luxo e o Brasil acabara da sair de Colônia para Império e em Salvador a situação social e sanitária, devido a exploração da escravidão, era péssima. Melhor um pouco encontrou no Rio de Janeiro no tempo em que foi preceptora dos filhos de D. Pedro e D. Leopoldina de quem acabou se tornando amiga. A ilustração tem como título Tree in a Garden at Bahia.e é de autoria da própria Maria Graham. Parabéns pela noticia.
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