Na sua obra mais conhecida, O homem que plantava arvores, o escritor francês Jean Giono lista
os primeiros gestos da civilização: tirar a agua da fonte, assar o pão e
plantar arvores. A partir desse principio, ele conta a historia de um pastor
que abandona seu rebanho para plantar árvores numa região desértica e ao longo
dos anos consegue revitalizar-la: os riachos brotam de novo da terra, a
população retorna para cultivar e logo se cria uma aldeia onde famílias vivem
em paz e harmonia. Giono conclui seu conto comparando o trabalho do pastor a
uma “obra de Deus”.
Na sua publicação, essa historia foi tão inspiradora
que levou grupos no mundo inteiro a plantar arvores, inclusive recentemente na
Índia onde o líder ecológico Bhausaheb Thorat lançou uma campanha para plantar
quarenta cinco milhões de raízes novas depois de ter lido o conto de Giono.
Essa historia me lembra que quando cheguei na Bahia
quinze anos atrás, no caminho do aeroporto ate o centro, eu não tirava os olhos
da maravilhosa Mata Atlântica que bordava a Avenida Paralela. Hoje em dia,
resultado de uma politica tributaria que impossibilita guardar um trecho de
terreno sem construir, só se encontra espigões, concessionarias e shopping
centers. Nesse ritmo, daqui a dez anos, nenhum trecho de Mata Atlântica será
visível.
A eleição do novo prefeito em 2012 criou verdadeiras
esperanças: ACM Neto escolheu uma vice prefeita do Partido Verde, quase na sua
posse lançou o projeto Salvador Vai de Bike, e abriu
ciclovias no centro da cidade. Então o que esta acontecendo agora? Porque
derrubar tantas árvores, geralmente de noite e sem avisar a população? Nossa
cidade precisa, sim, de reforma em muitas áreas. Mas cortar árvores centenárias
que pertenciam a nosso patrimônio? Será que daqui a pouco vão acabar com a copa
vegetal que protege o Corredor da Vitoria e sobreviveu a especulação
imobiliária? Se o compromisso ecológico do Prefeito for sincero, porque não
incentivar, como se faz na Austrália, na Nova Zelândia e nos EUA, a plantação
de novas arvores? Porque não fazer da nossa cidade uma nova obra de Deus?
Bernard Attal
Cineasta
Nenhum comentário:
Postar um comentário