segunda-feira, 14 de outubro de 2013

POR QUE NÓS ESPIONAMOS O BRASIL


Carlos Alberto Montaner | 28 Setembro 2013
Publicado no site Mídia Sem Máscara


A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, cancelou sua visita ao presidente Obama. Ela se sentiu ofendida porque os Estados Unidos estavam espionando seu e-mail. Não se faz isso com um país amigo. A
informação, provavelmente confiável, foi fornecida por Edward Snowden de seu refúgio em Moscou.

Intrigado, perguntei a um ex-embaixador dos EUA: "Por que eles fizeram isso?" Sua explicação foi duramente franca:
“Do ponto de vista de Washington, o governo brasileiro não é exatamente amigável. Por definição e historicamente, o Brasil é um país amigo que ficou do nosso lado durante a II Guerra Mundial e a da
Coreia, mas seu governo atual não está.”

O embaixador e eu somos velhos amigos. "Posso revelar seu nome?”, perguntei. "Não", respondeu ele. "Isso criaria um problema enorme para mim. Mas você pode transcrever nossa conversa." É o que farei aqui.

"Tudo que você tem de fazer é ler as atas do Foro de São Paulo e observar a conduta do governo brasileiro", disse ele. "Os amigos de Luiz Inácio Lula da Silva, de Dilma Rousseff e do Partido dos
Trabalhadores são os inimigos dos Estados Unidos: a Venezuela chavista, primeiro com (Hugo) Chávez e agora com (Nicolás) Maduro; a Cuba de Raúl Castro; o Irã; a Bolívia de Evo Morales; a Líbia dos
tempos de Kadafi; a Síria de Bashar Assad.

"Em quase todos os conflitos, o governo brasileiro concorda com as linhas políticas da Rússia e da China, em oposição à perspectiva do Departamento de Estado dos EUA e da Casa Branca. A família ideológica
com que mais se parece é a dos BRICS, com os quais tenta conciliar sua política externa. [Os BRICS são Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.]

"A imensa nação sul-americana não tem nem manifesta a menor vontade de defender os princípios democráticos que são sistematicamente violados em Cuba. Pelo contrário, o ex-presidente Lula da Silva muitas vezes leva investidores à ilha para fortalecer a ditadura dos Castros. O dinheiro investido pelos brasileiros no desenvolvimento do superporto de Mariel, próximo a Havana, é estimado em US$ 1 bilhão.

A influência cubana no Brasil é velada, mas muito intensa. José Dirceu, ex-chefe de gabinete e ministro mais influente de Lula da Silva, havia sido um agente dos serviços de inteligência cubanos. No exílio em Cuba, ele tivera o rosto cirurgicamente alterado. Ele retornou ao Brasil com uma nova identidade (Carlos Henrique Gouveia de Mello, um comerciante judeu) e ficou nessa função até que a democracia foi restaurada. De mãos dadas com Lula, ele colocou o Brasil entre os principais colaboradores da ditadura cubana. Ele caiu em desgraça porque era corrupto, mas nunca recuou um centímetro de suas preferências ideológicas e de sua cumplicidade com Havana.

"Algo semelhante está acontecendo com o professor Marco Aurélio Garcia, atual assessor de política externa de Dilma Rousseff. Ele é um anti-ianque contumaz, pior até do que Dirceu, porque ele é mais
inteligente e foi mais bem treinado. Ele fará tudo o que puder para despistar os Estados Unidos.

"Para o Itamaraty – um ministério de relações exteriores reconhecido pela qualidade dos seus diplomatas, geralmente poliglotas e bem educados –, a Carta Democrática assinada em Lima em 2001 é só um
pedaço de papel sem importância alguma. O governo simplesmente ignora as fraudes eleitores cometidas na Venezuela e na Nicarágua e é totalmente indiferente a qualquer abuso contra a liberdade de imprensa.

"Mas isso não é tudo. Há outras duas questões que fazem os Estados Unidos quererem ser informados em relação a tudo o que acontece no Brasil, pois, de uma forma ou de outra, elas afetam a segurança dos
Estados Unidos: corrupção e drogas.

"O Brasil é um país notoriamente corrupto e essas péssimas práticas afetam as leis dos Estados Unidos de duas maneiras: quando os brasileiros utilizam o sistema financeiro americano e quando eles competem de forma desleal com empresas dos EUA, recorrendo a subornos ou comissões ilegais.

"A questão das drogas é diferente. A produção de coca boliviana quintuplicou desde que Evo Morales se tornou presidente, e o distribuidor dessa substância é o Brasil. Quase tudo acaba na Europa, e os nossos aliados estão querendo informações. Essas informações, às vezes, estão nas mãos de políticos brasileiros."

Minhas duas perguntas finais são inevitáveis. Washington apoiará a candidatura do Brasil a membro permanente no Conselho de Segurança da ONU?

“Se você perguntar para mim, não”, diz ele. “Nós já temos dois adversários permanentes: Rússia e China. Não precisamos de um terceiro.”

Para finalizar, os Estados Unidos continuarão espionando o Brasil?

“Com certeza”, ele me diz. “É nossa responsabilidade para com a sociedade americana.”

Acho que Dona Dilma deveria trocar seu e-mail com frequência.
COMENTÁRIO DO BLOGUEIRO


NÃO TENHO MUITA SIMPATIA PELA POLÍTICA NORTE-AMERICANA. PENSO QUE SE TIVESSEM DESISTIDO DO BLOQUEIO A CUBA, O REGIME DE CASTRO TERIA DESAPARECIDO HÁ MUITO TEMPO. MAS NÃO DEIXA DE SEREM INTERESSANTES OS ARGUMENTOS APRESENTADOS.
E, MUITAS VEZES, JUSTOS.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails