Volto de uma viagem de cinco semanas no triângulo Paris-Marrakesh-Lisboa e, apesar dos inúmeros problemas gerados pela interminável crise econômica que o mundo atravessa, ouso fazer comparações entre cidades tombadas pela Unesco e me sinto agredido pelo que me parece uma proposital decadência de nossa cidade.
O hoje Centro Antigo de Salvador – como este pessoal, na falta de soluções, gosta de novas terminologias! – lembra Nagasaki, de tanta ruína e desleixo. Antigos casarões mal se agüentam em ferros corroídos. Quando algum finalmente desaba, o entulho fica no meio da rua por dias seguidos, mesmo que prejudicando comerciantes e transeuntes. O lixo se acumula durante o dia sem que ninguém tente disciplinar a população. Os garis escolhem com cuidado qual o plástico ou a pipoca que vão varrer, deixando o grosso para mais tarde. A violência inunda jornais e canais de televisão. As greves são corriqueiras, banais. O trânsito está perto da paralisação definitiva. A barulheira, ditatorial. O fedor, constante. O que restava de natureza, arrancado sem piedade para construir monstrengos de concepção arquitetônica medíocre. Igrejas e monumentos são “inaugurados” sem que a restauração tenha sido acabada.
]Durante cinco semanas de primavera em três países do hemisfério norte, me encantei com suntuosos e numerosos jardins mantidos com cuidado por prefeituras conscientes e atentas. Enquanto aqui, em Salvador, árvores, plantas e flores parecem inimigas públicas das autoridades. Desde as questionáveis intervenções na era Imbassahy até a mais horrenda descaracterização do Campo da Pólvora na lamentável gestão do viajante João Henrique, nossos edis fazem o possível para tornar repulsiva uma cidade que já teve tudo para encantar o mundo.
E por cúmulo, a prefeitura, que nem paga a meia-dúzia de funcionários dos planos inclinados que vivem fechados, consegue verbas astronômicas para publicar um escandaloso “Projeto Especial Marketing” de 52 páginas fartamente ilustrado, louvando uma gestão municipal tida como a pior do Brasil.
Podemos ter inveja de Cubatão.
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