quarta-feira, 12 de outubro de 2011

"Ainda Bem" Marisa Monte



CADA TEMPO TEM O FREAK SHOW QUE PODE

 No século XIX, gente comum pagava ingresso para divertir-se no circo vendo pessoas com toda a sorte de anomalias corporais. Eram os freak shows. O mundo evoluiu, ter prazer com a exposição e exploração da deficiência do outro passou a ser feio e crime e a burguesia reprimiu, pelo menos publicamente, sua excitação pelo grotesco, permitindo-se, no máximo, prestigiar espetáculos onde animais são torturados, como em rodeios, touradas, rinhas e afins.

PRÍNCIPE
A transmissão do UFC pela TV aberta no Brasil, a presença massiva de ricos e famosos no evento e o tamanho da espetacularização da coisa não deixa dúvidas: os descolados já têm uma rinha de galo humana institucionalizada para chamar de sua, sem a patrulha dos defensores dos bichos. O brigão que faz o oponente espirrar sangue agora é um príncipe encantado: é fotografado com rosas brancas na boca na capa de revistas descoladas, tem fala mansa e dança romanticamente com a moça mais fina e discreta da música nacional. Bastou aplicar 32 regras ao vale tudo, bombar em patrocínio, chamar Luciano Huck para os bastidores e o sangue explodindo na cara de homens semi-nus arrebentando-se entre si num octógono tornou-se cult. Todo tempo tem seu freak show e seus gladiadores. Roma é aqui e agora.

 Malu Fontes
é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto publicado originalmente em 11 de outubro de 2011, no jornal A Tarde,

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