A resposta parece fácil: ao ver perdida uma galinha dos ovos de ouro – o sistema Lauro de Freitas – Aeroporto – Paralela -, os empresários estreitaram acordos com o PMDB e partiram para tentar inviabilizar a decisão governamental. Mas então, se o Setps tem R$ 600 milhões para investir em Salvador, o que estava esperando para anunciar? Naturalmente esperava ganhar a licitação (a PMI do governo estadual) e fazer as obras com o nosso dinheirinho.
O Setps descobriu que o sólido desmanchou-se no ar. Agora corre desesperadamente para tentar recuperar o que parecia seu. A implantação do BRT na Paralela significaria o adiamento por décadas de um sistema de transportes mais eficiente, ecológico, capaz de retirar automóveis das ruas. Aumentaria os problemas de mobilidade a longo prazo, superpovoando a cidade de mais e mais viadutos; ao tempo em que confinaria a linha 1 do Metrô a algo insignificante. A decisão do governo representa a possibilidade de estruturar um sistema de melhor qualidade e integrar vários modais – metrô, ônibus e trens.
Tão impressionante quanto a disposição do Seteps de devolver R$ 600 milhões à cidade é perceber o papel que o PMDB e os empresários de ônibus estão atribuindo à Câmara Municipal neste momento. O debate político foi fermentado com o anúncio dos R$ 600 milhões do Setps, numa ação ostensiva de mídia, ocupando as emissoras de rádio e jornais, A Tarde ofertou a manchete para a ação política do presidente da Câmara Municipal, Pedro Godinho, que teve um artigo seu publicado no caderno Política, página B2, local inusual para a publicação de artigos.
As forças conservadoras, capitaneadas pelo Setps, querem manter tudo como está. Entendamos uma coisa: até a última eleição a hegemonia política na cidade foi conservadora, reacionária, clientelista – passemos um pente fino no plantel da Câmara Municipal e veremos como a cidade está representada ali, majoritariamente pelos interesses das empresas de transportes, de lixo e do setor imobiliário.
As sessões da Câmara que aprovaram matérias de interesse destes agrupamentos empresariais foram realizadas em regime de “urgência urgentíssima”, ou seja, os projetos chegaram à Casa pela manhã e à tarde foram postos para as votações, que se arrastaram pelas madrugadas graças às obstruções de uma oposição numericamente pouco significativa.
O episódio do Setps agora parece marcar, na verdade, o início da campanha eleitoral do próximo ano. O radialista Mário Kertsz – virtual candidato do PMDB – há cerca de um mês veicula a música da sua última campanha eleitoral, tem sido entrevistado pelos jornais sobre a candidatura e expôe o visu renovado em diversos outdoors espalhados pela cidade. A sua estratégia agora, ao que parece, é garantir uma frente ampla dos partidos de “oposição” ao governo Wagner – mais uma vez vemos Salvador usada como moeda do jogo estadual, sendo que agora no meio do jogo tem Copa do Mundo e Olimpíadas com toda a pompa, circunstância e grana do tempo do progresso.
Análise comparativa dos projetos do BRT e do Metrô aponta benefícios maiores para a cidade proporcionados pelo sistema sobre trilhos. Este modal implantado agora será capaz de atender às demandas da cidade para os próximos 40 anos. Se vingasse o BRT na Paralela a cidade ficaria, mais ainda, refém de um único segmento empresarial no setor de transportes. Do modo como a questão foi encaminhada, a cidade ganha a concorrência de dois modais principais – trilhos e sobre rodas – o que poderá favorecer o melhor desempenho dos serviços.
A cidade está farta de falcatruas, de má gestão dos recursos público. As áreas da assistência social e da saúde estão sucateados: a gestão local dos programas sociais federais é simplesmente desastrosa. É incompreensível que os governos estadual e federal não realizem fiscalização rigorosa dos procedimentos usados pela prefeitura na gestão dos programas sociais.
Neste momento, os segmentos mais ativos tendem a apostar na ação pública buscando debates amplos, reunindo as universidades, governos e agentes sociais em busca das soluções fundamentais para o desenvolvimento humano da cidade. Todos aguardamos o respeito ao funcionamento dos conselhos de gestão e a sinergia de todas as políticas públicas.
A cidade requer lideranças para a montagem de uma proposta de governo consistente, que signifique o desenvolvimento de um conceito urbano adequado para Salvador.
O Brasil regozija-se com a decisão da presidenta de atacar o mal da corrupção, que consome e tripudia governos e estados em todo o mundo. Há as leis. Uma delas tipifica o abuso do servidor público em benefício privado. As investigações do Tribunal de Contas da União, da Polícia Federal, do Ministério Público no Ministério do Turismo, p. ex., apontam uso de recursos e da máquina pública em benefício de políticos e particulares. É óbvio que prevaricam. Não dá para posar de vestais.
- Ah! Isto é normal!, dizem alguns. Natural! Sim, claro, no Brasil sempre foi assim. É certo, sempre foi assim ou muito pior do que isso. A nossa história é um exemplo flagrante de plutocracia e abuso do poder. É só consultar Machado de Assis para termos em conta o modo como as elites usufruíam das benesses do poder no Brasil. A história da malandragem, de ganhar sem trabalhar, ainda não foi superada.
Alguns podem dizer que continua a todo vapor. Porém é forçoso reconhecer que pouco a pouco exercita-se a ação cidadã da Polícia Federal – que nestas horas é condenada por políticos de rabo preso e seus amigos da mídia - do Ministério Público e de uma Justiça que tem sua ação impedida e retardada como se fosse ainda a Justiça da Colônia e do Império. O Brasil quer mudanças profundas. Temos fome de tudo o que é bem, bom e justo.
Contudo essa história está sendo mudada aqui e agora. Por cada um de nós.
Do blog de Josias Pires "Bahia na rede"
O Setps descobriu que o sólido desmanchou-se no ar. Agora corre desesperadamente para tentar recuperar o que parecia seu. A implantação do BRT na Paralela significaria o adiamento por décadas de um sistema de transportes mais eficiente, ecológico, capaz de retirar automóveis das ruas. Aumentaria os problemas de mobilidade a longo prazo, superpovoando a cidade de mais e mais viadutos; ao tempo em que confinaria a linha 1 do Metrô a algo insignificante. A decisão do governo representa a possibilidade de estruturar um sistema de melhor qualidade e integrar vários modais – metrô, ônibus e trens.
Tão impressionante quanto a disposição do Seteps de devolver R$ 600 milhões à cidade é perceber o papel que o PMDB e os empresários de ônibus estão atribuindo à Câmara Municipal neste momento. O debate político foi fermentado com o anúncio dos R$ 600 milhões do Setps, numa ação ostensiva de mídia, ocupando as emissoras de rádio e jornais, A Tarde ofertou a manchete para a ação política do presidente da Câmara Municipal, Pedro Godinho, que teve um artigo seu publicado no caderno Política, página B2, local inusual para a publicação de artigos.
As forças conservadoras, capitaneadas pelo Setps, querem manter tudo como está. Entendamos uma coisa: até a última eleição a hegemonia política na cidade foi conservadora, reacionária, clientelista – passemos um pente fino no plantel da Câmara Municipal e veremos como a cidade está representada ali, majoritariamente pelos interesses das empresas de transportes, de lixo e do setor imobiliário.
As sessões da Câmara que aprovaram matérias de interesse destes agrupamentos empresariais foram realizadas em regime de “urgência urgentíssima”, ou seja, os projetos chegaram à Casa pela manhã e à tarde foram postos para as votações, que se arrastaram pelas madrugadas graças às obstruções de uma oposição numericamente pouco significativa.
O episódio do Setps agora parece marcar, na verdade, o início da campanha eleitoral do próximo ano. O radialista Mário Kertsz – virtual candidato do PMDB – há cerca de um mês veicula a música da sua última campanha eleitoral, tem sido entrevistado pelos jornais sobre a candidatura e expôe o visu renovado em diversos outdoors espalhados pela cidade. A sua estratégia agora, ao que parece, é garantir uma frente ampla dos partidos de “oposição” ao governo Wagner – mais uma vez vemos Salvador usada como moeda do jogo estadual, sendo que agora no meio do jogo tem Copa do Mundo e Olimpíadas com toda a pompa, circunstância e grana do tempo do progresso.
Análise comparativa dos projetos do BRT e do Metrô aponta benefícios maiores para a cidade proporcionados pelo sistema sobre trilhos. Este modal implantado agora será capaz de atender às demandas da cidade para os próximos 40 anos. Se vingasse o BRT na Paralela a cidade ficaria, mais ainda, refém de um único segmento empresarial no setor de transportes. Do modo como a questão foi encaminhada, a cidade ganha a concorrência de dois modais principais – trilhos e sobre rodas – o que poderá favorecer o melhor desempenho dos serviços.
A cidade está farta de falcatruas, de má gestão dos recursos público. As áreas da assistência social e da saúde estão sucateados: a gestão local dos programas sociais federais é simplesmente desastrosa. É incompreensível que os governos estadual e federal não realizem fiscalização rigorosa dos procedimentos usados pela prefeitura na gestão dos programas sociais.
Neste momento, os segmentos mais ativos tendem a apostar na ação pública buscando debates amplos, reunindo as universidades, governos e agentes sociais em busca das soluções fundamentais para o desenvolvimento humano da cidade. Todos aguardamos o respeito ao funcionamento dos conselhos de gestão e a sinergia de todas as políticas públicas.
A cidade requer lideranças para a montagem de uma proposta de governo consistente, que signifique o desenvolvimento de um conceito urbano adequado para Salvador.
O Brasil regozija-se com a decisão da presidenta de atacar o mal da corrupção, que consome e tripudia governos e estados em todo o mundo. Há as leis. Uma delas tipifica o abuso do servidor público em benefício privado. As investigações do Tribunal de Contas da União, da Polícia Federal, do Ministério Público no Ministério do Turismo, p. ex., apontam uso de recursos e da máquina pública em benefício de políticos e particulares. É óbvio que prevaricam. Não dá para posar de vestais.
- Ah! Isto é normal!, dizem alguns. Natural! Sim, claro, no Brasil sempre foi assim. É certo, sempre foi assim ou muito pior do que isso. A nossa história é um exemplo flagrante de plutocracia e abuso do poder. É só consultar Machado de Assis para termos em conta o modo como as elites usufruíam das benesses do poder no Brasil. A história da malandragem, de ganhar sem trabalhar, ainda não foi superada.
Alguns podem dizer que continua a todo vapor. Porém é forçoso reconhecer que pouco a pouco exercita-se a ação cidadã da Polícia Federal – que nestas horas é condenada por políticos de rabo preso e seus amigos da mídia - do Ministério Público e de uma Justiça que tem sua ação impedida e retardada como se fosse ainda a Justiça da Colônia e do Império. O Brasil quer mudanças profundas. Temos fome de tudo o que é bem, bom e justo.
Contudo essa história está sendo mudada aqui e agora. Por cada um de nós.
Do blog de Josias Pires "Bahia na rede"
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