sexta-feira, 22 de abril de 2011

RETALHOS 37


Um professor da UFBA se queixa “O teto do MAM que foi refeito há 3 anos está caindo e a parte da bienal que veio p/ Salvador teve que sair correndo. O setor de Restauro do IPAC está ao desabrigo há 4 anos, com a mudança do Solar do Ferrão para a 28 de setembro. Desde então os restauradores vivem zanzando... O Arquivo Público, segundo mais importante do país, está fechado desde fevereiro. Medo de curto-circuito. Bira, diretor da Fundação que administra o Arquivo, apesar de ser historiador, nem tchum.”

Existe algo de necromania na insistência dos repórteres de televisão em focalizar a dor dos parentes de vítimas. O espectador se sente com freqüência um intruso. Uma pergunta: Quando um drama envolvendo mortos aparece na televisão, poucas horas após o acontecimento, todos os parentes e amigos vestem camisetas com as fotos das vítimas. Quem está orquestrando a fúnebre fantasia? Os familiares? Duvido. Deve haver algum tipo de empresário-urubu sempre à espera de novo drama para poder faturar em cima da dor alheia. Vergonhoso.

Finalmente o jornal A Tarde tem uma crítica gastronômica, Daniela Castro, que sabe do que escreve, não vive pedindo regalias nos restaurantes e tem senso de humor.

A definição sobre qual projeto de mobilidade urbana será implantado na capital baiana não é só um problema político ou técnico. A defesa do VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos), sempre desejado e anunciado pelo ex-secretário de Planejamento e atual senador, Walter Pinheiro, leva também a assinatura da Construtora OAS. Já o BRT (Bus Rapid Transit), que utilizaria ônibus e abriria mais pistas de rolamento, bancado pelos empresários do setor via SETPS, foi aprovado e incentivado pelo prefeito João Henrique. Enquanto isto, o dinheiro está à disposição no BNDES e a população continua seu sofrimento.  (Coluna do Geraldo Villalva)

Sobre o mesmo problema, os arquitetos Paulo Ormindo de Azevedo e Zezeu Ribeiro também acham mais coerente a implantação do VTL. Mas os senhores do cartel dos transportes públicos preferem o BRT. Por que será?

Um advogado baiano declara: “A nossa justiça é péssima, demora muito. Só perde em morosidade para a Justiça Divina.”  

Chegou na minha mesa, abril já avançado, um calendário 2011. Como patrocinadores, a Caixa, Estado da Bahia, o Centro Antigo de Salvador (Leia Escritório sem Referências) e a Casa da Fotografia. Uma elefanta casou com um hipopótamo, tiveram como padrinhos um rinoceronte e uma avestruz e a noiva só conseguiu parir um cágado... Haja mediocridade! Desde o papel até a tiragem, nada se salva. Além do inadmissível atraso, mal cortado e mal montado. A quitanda da esquina faria muito melhor. Quanto custou ao bolso de contribuinte esta triste empreitada? Lamentável.

Demorou... Mas finalmente saiu o comunicador Daniel Rangel da diretoria da Dimus. O garoto andava confundindo demais os museus da Bahia com galerias. Entra Maria Célia Moura Santos, uma museóloga profissional de longa experiência. Meteorologia anuncia bom tempo estável para os próximos anos.

Depois de oito anos de um governo que se pretendia popular e até repudiava o tênis como esporte de burguês, as escolas continuam em estado de calamidade e nas filas dos hospitais, pacientes continuam morrendo. Até quando?

Vergonhoso. Nossos políticos não têm a menor preocupação em preservar o meio ambiente. O cínico Aldo Rebelo, do PC do B que o diga, com seu insensato projeto restringindo cada vez mais o já doente Código Florestal. Quem bate palmas com entusiasmo são os fazendeiros, usineiros e donos de qualquer monocultura que só vise o lucro imediato, sem pensar no futuro de seus próprios filhos.

A inflação batendo de novo à porta de nossas casas e poupanças. As gastanças da era Lula serão a herança maldita da gestão Dilma. Uma sugestão: Vamos convidar o Itamar Franco e o Fernando Henrique Cardoso para dar um jeito ? Assim como as coisas estão indo, corremos o risco de retirar o B do Bric. E Ric soa esquisito, né?

Uma das raras fotos recentes do Lula – anda meio sumido do noticiário – revela: deixou de usar a gravata como símbolo ideológico. Do vermelho bolchevico passou para as listras. Feias, por sinal. Quanto a Dona Marisa, cada dia mais botoxada.

E o deputado Marco Maia, líder do PT, pretendendo assistir a um jogo de bola em Madri com despesas pagas pelos contribuintes? Está bem dentro do perfil do mensalão do PT, cujo julgamento anda a passos de cágado. Em contrapartida o mensalão do DEM está sendo julgado de vento em popa. Quem disser que a Justiça é cega?

Os que não hesitaram em enfrentar o congestionamento de um fim de dia chuvoso pelos lados do Iguatemi para prestigiar Florisvaldo Mattos, não se arrependeram. A Livraria Cultura ficou abarrotada de amigos e leitores do conhecido poeta baiano. Durante cinco horas ele não parou de escrever dedicatórias. Mais de 250! Sucesso merecido.

O MST é visto geralmente como um movimento baderneiro manipulado por um bando de agiotas. Pode ser que haja abuso de muitos dirigentes e até enriquecimento ilícito de alguns deles. Mas que o governo também não faz o dever de casa, isso não deixa de ser evidente. As escolas prometidas há anos continuam promessas e as estradas para escoar os produtos não passaram de discursos de palanque. Ninguém duvide: quem tem casa, família e emprego não anda pelas estradas do país afora, faça sol, faça chuva.

É entre as mil pequenas notas que ocupam espaços ociosos na imprensa que se conhece o verdadeiro perfil do poder. Um fazendeiro foi pego em flagrante, acusado de trabalho escravo em Barreiras, nos confins da Bahia. Mas a Justiça não é cega. A condenação a quatro anos de prisão foi substituída por pena de trabalho voluntário, não se sabe por quê.  O nome do bandido não foi publicado. Somente as iniciais B.R.P.F. Na China dos bons tempos da Revolução Cultural, teria seu nome pendurado no pescoço e acabaria fuzilado. Salvo erro, não está previsto nas nossas leis a desapropriação para entregue aos Sem Terra? Que a lei seja comprida!

Abril foi inteiramente ocupado, na capital da Bahia, pelo Viva Dança, um envolvente festival de dança. Apesar de algumas restrições, esta é uma realização que merece entrar nas tradições da agenda cultural baiana. Pena não ter podido assistir a todos os espetáculos. Já na abertura, apesar de ter convite na mão, a confusão administrativa que permeia, na Boa Terra, este tipo de eventos, me deixou plantado na porta do TCA. Pelo menos fui dormir mais cedo.
Pelos comentários ouvidos, o Antônio Nóbrega, embora de alto nível, ao dar, com certa condescendência, aulas ao público, denota evidente crise de estrelismo. Lamento. Conheci-o mais humilde. Na verdade, a primeira vez que se apresentou em Salvador, ainda nos anos 80, foi no Solar Santo Antônio, minha casa – Sim sinhô! - um domingo de manhã, entre dois aviões, por sugestão de Romero de Andrade Lima, afilhado de Ariano Suassuna. Espetáculo muito especial para reduzida platéia: minha mãe, o artista Reinaldo Eckenberger e eu. Tempo e talento levaram-no muito acima de minha modesta carrequice.
Perdi estupidamente o Tadashi Endo, embora eu seja fã de butô.
Em contrapartida, decepcionante foi a companhia de Nivaldo Bertazzo. Este cara tem um ego do tamanho do TCA. Dança, fala e canta, mas não encanta. Confesso não entender esta tentativa de cabaré com show folclórico. Quanto à cantora que pensa ser divertida, coitada... tem mais de Cirque du Sommeil que de Ionesco. Ela parece estar no lugar errado no momento errado. Nós também. 
Outra mancada: aqueles dois que vieram de Paris ( Robe Bonbon et Queue de Pie... que nome mais idiota!) para nos impressionar com suas preocupações ecológicas, deveriam ter ficado por lá. Pretensioso discurso oco apoiado em gestual de contorcionismo entediante. Desde Loie Fuller e Isadora Duncan até Alwin Nikolais e Clyde Morgan, muitos foram os que usaram e abusaram de panos, lenços e véus com mais adequação. Se algum leitor também assistiu, quem sabe possa me explicar por que cargas d´água o par levou quinze minutos para descer seis degraus do palco para a sala com um balão na mão? Me arrependi de não ter saído no meio. Haja saco!
O Teatro Molière compensou ao apresentar o solo de “Tango aDeus”. Bela viagem ao passado do bailarino-coreógrafo Luiz Arrieta a partir de variações de Artur Piazzola. Teve momentos realmente comoventes.
Para finalizar estes poucos palpites sobre o Viva Dança, os Diálogos sobre Nijinsky, da Virtual Companhia de Dança (SP) me deixaram encantado. Qual a companhia contemporânea que ousaria recuperar Debussy por mais de uma hora para um homem e uma mulher interagir com projeções em vários níveis dos próprios, e vídeo de cemitério parisiense? Fiquei especialmente sensível à re-leitura da coreografia de “L´aprés-midi d´un faune” que já vi dançada por Nureyev. Na época da criação, 1912, causou escândalo pela sugestão erótica. Para mim, o melhor momento do festival.

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