...corta parte de fornecimento de leite especial para crianças de Salvador
O alimento fornecido a cerca de 100 crianças pela SMS desde 2004, chamado de fórmula especial, é um pó que, misturado à água, substitui o leite
Clara* nasceu com um problema estranho à maioria dos bebês da sua idade. Seu organismo não consegue absorver os nutrientes do leite materno e sofre com alergia ao de vaca. Agora, com apenas cinco meses de vida, a pequena enfrenta um desafio maior. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) cortou parte do fornecimento do único alimento que compõe a dieta de Clara*.
O alimento fornecido a cerca de 100 crianças pela SMS desde 2004, chamado de fórmula especial, é um pó que, misturado à água, substitui o leite. Como os preços da lata de 400 gramas variam de R$ 160 a R$ 600, e as crianças consomem em média 15 latas por mês, as mães reclamam que não conseguirão alimentar os filhos.
“No dia 10 deste mês, fui lá pegar 18 latas e eles só me deram oito. Disseram a redução era por falta de verba”, lamentou a mãe de Clara*, a gerente de bancos Milena Pinheiro.
Como a lata que a pequena consome custa R$ 400, Milena terá que desembolsar R$ 4 mil, só em fevereiro, para dar o que comer à filha. “Ela não absorve meu leite e não pode beber o de vaca, porque tem diarreia. Ninguém consegue arcar com isso”.
Segundo a pediatra Sarah Coutinho, Clara* pode ter deixado de absorver os nutrientes do leite materno devido à inflamação do intestino provocada pela alergia ao de vaca. “Não há alergia ao leite da mãe. O que existe é o organismo não conseguir absorver os nutrientes devido à inflamação no intestino”, explicou.
Bianca Gouveia, mãe de Gustavo, também está preocupada e reclama da prefeitura
A presidente da Associação Baiana de Pais e Amigos de Crianças com Alergia Alimentar (Abappa), a fisioterapeuta Bianca Gouveia, denunciou que, desde que começou a distribuição, há cortes na época do Carnaval. Ela também reclamou da postura dos nutricionistas. “Os nutricionistas têm o cinismo de dizer que eu tenho medo de dar comida ao meu filho. Quem dá diagnóstico é médico”. Bianca é mãe de Gustavo, 2 anos, que além de leite é alérgico a soja, ovo, milho, trigo e frutos do mar.
Bianca e outras mães, como a fisioterapeuta Taiena Andrade, mãe de Miguel, 2 anos, entraram com liminar no Juizado de Causas Especiais da Justiça Federal. “O juiz julgou procedente e ontem (anteontem) me ligaram da Secretaria de Saúde avisando que a compra já foi autorizada”. Miguel consome por mês 12 latas, de R$ 170 cada. Caso Taiena não receba, terá que gastar R$ 2.040.
As latas são fornecidas pela Coordenadoria de Atenção e Prevenção à Saúde (Coaps), da SMS. Os pais procuram um pediatra, que encaminha à Coaps um relatório solicitando determinada quantidade. Todo mês o responsável se encontra com um nutricionista da coordenadoria para receber a fórmula.
O CORREIO procurou a SMS, mas a assessoria informou que se manifestaria através de nota. A secretaria divulgou que o fornecimento das latas não é financiado pelo Ministério da Saúde, mas pela própria prefeitura. “A Secretaria Municipal da Saúde foi obrigada a reduzir a quantidade devido às restrições financeiras e orçamentárias de início de exercício”. A prefeitura não divulgou quanto investe na compra das fórmulas.
A secretaria também informou que a intenção é dividir os custos com as famílias. “Dados comprovam que 80% das famílias que solicitam o produto vêm da rede privada e conveniada e apenas 20% são provenientes do SUS”.
Segundo a pediatra Sarah Coutinho, a alergia surge por razões hereditárias e por a criança ter bebido leite de vaca antes dos seis meses, quando o sistema imunológico ainda está em formação. “O organismo reage por não ser uma proteína do leite materno, por não ser humana. Isso desencadeia a resistência e a alergia”, explicou.
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