Ao lado de meu computador uma página de jornal com duas fotos de comida deveriam abrir meu apetite. Mas as legendas produzem o efeito contrário. “O Grilled Salmon está entre as opções de pescados para quem escolher almoçar no Outback”. “No The Beef recém-inaugurado, a influência portuguesa falou mais alto”. Falou mais alto... em inglês, na Bahia!
O Fernando Pessoa que se dane!
O Fernando Pessoa que se dane!
Talvez por não ser minha língua materna, tenho pelo português um carinho muito especial. Fui treinado num vernáculo acadêmico-popular durante quinze anos em Lisboa, onde mesmo a iletrada varina pede “Dois pães, faz favor”. Plural é múltiplo, singular é único. Evito tanto quanto possível fazer compras nos famigerados shopping centers. Lá tudo cheira a fake. Em época de saldos, as vitrines estampam Off, Sale e Discount. Verão é para usar beachwear e docksiders.
Você é colunável se morar no edifício Greenville ou nalguma outra tower, de preferência com home-theater e píer a beira-mar. Agora, imagine o banalíssimo edifício chamar-se “Cidade Verde”. Já pensou no questionamento embutido nesta afirmação?
Será que uma palavra inglesa transforma a mediocridade em top of mind? As kitchens fazem um melhor vatapá que cozinhas convencionais? As tags do frozen yogurt ficarão mais light no happy hour do loung bar? Tudo isso, of course, sem a mínima afetação!
Você é colunável se morar no edifício Greenville ou nalguma outra tower, de preferência com home-theater e píer a beira-mar. Agora, imagine o banalíssimo edifício chamar-se “Cidade Verde”. Já pensou no questionamento embutido nesta afirmação?
Será que uma palavra inglesa transforma a mediocridade em top of mind? As kitchens fazem um melhor vatapá que cozinhas convencionais? As tags do frozen yogurt ficarão mais light no happy hour do loung bar? Tudo isso, of course, sem a mínima afetação!
Não pretendo agora fazer uma lista, que nunca chegaria à exaustiva, dos anglicismos nos quais tropeçamos a cada metro, cada minuto. Como combater este rolo-compressor lingüístico?
Há dois anos meu irmão Wladimir me levou ao paulista Museu da Língua Portuguesa. Saímos de lá tão emocionados que nem conseguíamos falar. Já no carro, ele fez um lindo comentário “Depois desta visita, a gente sente orgulho de falar português”.
Pois é, talvez aqui esteja a solução: que os ministérios da Educação e da Cultura implantem em cada capital do Brasil um museu nos mesmos moldes, com a mesma sensibilidade e inteligência, para a classe média entender que nada é mais sofisticado que falar bem sua própria língua. Identidade cultural começa pelo verbo.
Há dois anos meu irmão Wladimir me levou ao paulista Museu da Língua Portuguesa. Saímos de lá tão emocionados que nem conseguíamos falar. Já no carro, ele fez um lindo comentário “Depois desta visita, a gente sente orgulho de falar português”.
Pois é, talvez aqui esteja a solução: que os ministérios da Educação e da Cultura implantem em cada capital do Brasil um museu nos mesmos moldes, com a mesma sensibilidade e inteligência, para a classe média entender que nada é mais sofisticado que falar bem sua própria língua. Identidade cultural começa pelo verbo.
Dimitri.
ResponderExcluirUm artigo primoroso,sem dúvida. Concordo com
o texto e suas nuances em gênero, número e caso
Assino embaixo, sem restrições ou reservas.
CLIMERIO ANDRADE