Em 1975 abri a Galeria da Sereia, primeira do Pelourinho,
enquanto o saudoso Deraldo hospedava sua Galeria 13 no Maciel. Despejado sem
muita cerimônia pelo IPAC, fui para a Ladeira da Barra. Desastre financeiro,
agravado por uma ligação mais do que perigosa com um casal de oportunistas
baianos.
A partir de 1980, minhas divagações culturais encontraram no
Mercado Modelo um porto seguro. Durante dezesseis anos apresentaria para
turistas apressados e colecionadores de olhar perspicaz artistas que outros
marchands ignoravam.
Por meus modestos 7m2 passaram Eckenberger, J. Cunha, Bel
Borba, Babalu, Murilo, Zilda Paim, Adriane Gallinari, Faróleo, Vauluizo
Bezerra, Daniel di Paula, Antenor Lago, Emma Valle, gravadores populares como
J. Borges, Amaro Francisco e mais alguns outros. A maioria é hoje reconhecida
pelo público, alguns até com renome internacional.
Sofri, como todos os outros comerciantes, com o incêndio de uma
noite de 1984, que levou em fumaça anos de trabalho. Sugeri a formação de uma
associação de comerciantes, sendo um dos mais votados pelos colegas.
Quando o
subsolo do MM foi reaberto, propus transformá-lo em espaço cultural, logo
aceito pela associação. A Aliança Francesa emprestou fotografias de Édouard
Boubat e Bira Reis expôs instrumentos inspirados pelo mestre Smetak. As
fotografias, derretendo pelo calor excessivo do lugar mal arejado, foram
retiradas às pressas e as bailarinas de Bira quase desmaiaram pelo mesmo motivo.
Nunca mais o espaço foi aproveitado.
Pena, porque bastaria melhorar a
ventilação deste extraordinário local.
Deixei o Mercado Modelo em 1996, empurrado por uma política de
Turismo que afirmava “Prefiro quantidade à qualidade”. Os jovens artistas não teriam
mais seu espaço no sedutor bazar.
Mas ainda me restam as lembranças de um caloroso
ambiente humano que tanto me ajudou a criar raízes no que é hoje minha terra.
Obrigado, amigos do Mercado Modelo!
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