MARCELO TORRES
Nel mezzo del cammin di nostra vita... Assim o Inferno, que é o início d'A Divina Comédia, de Dante.
Da nossa vida em meio da jornada... Assim é a tradução de Xavier Pinheiro, que Machado de Assis achou primorosa.
A tradução de Augusto de Campos é literal: No meio do caminho desta vida.
Chegou então o príncipe Bilac e fez um soneto cujo título era aquele verso de abertura do Inferno: Nel mezzo del cammin di nostra vita.
Mais tarde apareceu o moderno Drummond para parodiar o parnasiano, dizendo que no meio do caminho tinha uma pedra.
E um dia José do Patrocínio, que também era poeta, quis ensinar o príncipe a dirigir. O veículo era um Serpollet, modelo francês, movido a vapor.
A uma velocidade de três quilômetros por hora, desgovernado pela Estrada da Tijuca, no Rio de Janeiro, o carro bateu numa árvore.
Era o primeiro acidente automobilístico no Brasil. Foi perda total, mas felizmente Bilac e Patrocínio saíram ilesos.
Eu até já ia dizer que Bilac bateu porque estava pensando na homenagem do modernista, mas lembro a tempo que Drummond veio depois - cinco anos depois é que o anjo torto o anunciou.
De todo modo, talvez seja possível dizer que Bilac, ouvindo estrelas, perdeu o senso de direção. E no meio do caminho tinha (ou havia?) uma árvore; tinha uma árvore no caminho do príncipe.
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