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quinta-feira, 9 de julho de 2015

NO MEIO DO CAMINHO...

MARCELO TORRES


Nel mezzo del cammin di nostra vita... Assim o Inferno, que é o início d'A Divina Comédia, de Dante.

Da nossa vida em meio da jornada... Assim é a tradução de Xavier Pinheiro, que Machado de Assis achou primorosa.

A tradução de Augusto de Campos é literal: No meio do caminho desta vida.

Chegou então o príncipe Bilac e fez um soneto cujo título era aquele verso de abertura do Inferno: Nel mezzo del cammin di nostra vita.

Mais tarde apareceu o moderno Drummond para parodiar o parnasiano, dizendo que no meio do caminho tinha uma pedra.   

E um dia José do Patrocínio, que também era poeta, quis ensinar o príncipe a dirigir. O veículo era um Serpollet, modelo francês, movido a vapor.

A uma velocidade de três quilômetros por hora, desgovernado pela Estrada da Tijuca, no Rio de Janeiro, o carro bateu numa árvore.

Era o primeiro acidente automobilístico no Brasil. Foi perda total, mas felizmente Bilac e Patrocínio saíram ilesos.

Eu até já ia dizer que Bilac bateu porque estava pensando na homenagem do modernista, mas lembro a tempo que Drummond veio depois - cinco anos depois é que o anjo torto o anunciou.

De todo modo, talvez seja possível dizer que Bilac, ouvindo estrelas, perdeu o senso de direção. E no meio do caminho tinha (ou havia?) uma árvore; tinha uma árvore no caminho do príncipe.

Ele nunca mais se esqueceria desse acontecimento. No meio do caminho de Bilac tinha uma árvore.  (marcelocronista@gmail.com)  

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