JC Teixeira Gomes
Fiz uma viagem recente e gostaria de estar narrando
fatos interessantes aos meus leitores, mas tenho sido obrigado a adiar meu
projeto, diante da calamitosa situação nacional: afinal, é um privilégio dispor
de um espaço para defender o interesse público, função básica do jornalismo conseqüente.
Não sei se
acontece o mesmo com a maioria dos leitores, mas sinto particular dificuldade
em assimilar os dados espantosos do rombo na Petrobras, com números que se
agigantam a cada dia: mais do que perplexo, eles me deixam atônito, com
crescente incapacidade de compreender como foi possível roubarem tanto no
Brasil, sem uma pronta e enérgica reação do poder. Torna-se óbvio que o comprometimento
foi geral. Todos os ovos podres, numa mesma cesta.
O mais
recente dado a me causar espanto foi a revelação de que o ex-gerente da
Petrobras, Pedro Barusco, está sendo obrigado pelo Ministério Público a
devolver aos cofres nacionais a extraordinária quantia de 182 milhões de reais,
do total que ele já acumulava no exterior, como um dos beneficiários do esquema
petista de corrupção na empresa. Amigos leitores, tomemos fôlego para repetir:
182 milhões de reais! Isto apenas em consequência das propinas que recebeu,
como um dos integrantes do sistema de ladroagem instituído pelo PT e só
descoberto através da delação premiada. 182 milhões de reais num único bolso,
fora o que está lá fora e ainda não se sabe! Não há loteria igual.
Pois bem,
leitor amigo: tentemos raciocinar juntos para imaginar o que, no conjunto de
toda a roubalheira já denunciada, não só a Petrobras mas todo o Brasil perdeu
em investimentos, construção e aparelhamento de hospitais e escolas, melhoria
da segurança pública, obras de infraestrutura econômica, ampliação de estradas,
aeroportos, portos e ferrovias, empreendimentos na área cultural e até
esportiva, enfim, na melhoria da qualidade de vida do cidadão brasileiro, pois
a riqueza produzida em todos os níveis gera também os impostos que dinamizam a
vida social e consolidam o progresso de um país. Você, leitor amigo, que se
espanta a cada dia com as incessantes notícias do saque, pare um pouco, na
intimidade do seu lar, para avaliar a extensão do prejuízo, concretamente embutido
na assombrosa ciranda dos números já divulgados. Não se espante apenas, pense
no que lhe foi roubado a cada dia pelos dirigentes da Petrobrás e pelos
governantes petistas, sob cujo poder o descalabro vinha ocorrendo. E não se esqueça de que você já tinha sido
suficientemente tungado pela quadrilha do mensalão!
A
roubalheira começou antes, era do tempo de Fernando Henrique, como já foi
denunciado pelo petismo acuado? Vá lá que seja verdade, não duvidemos, a
dilapidação do dinheiro do povo é prática antiga no Brasil. Mas, e daí? Em que
a suposta culpa do governo de FHC pode absolver a ação mais recente (e já
comprovada) da quadrilha petista? O que a sociedade brasileira não aceita é que
a tática das acusações generalizadas seja empregada pelos delinquentes já
conhecidos, para protelar investigações e assegurar a impunidade tão comum em
nossos deploráveis hábitos políticos.
Na longa
sequência de dilapidação do dinheiro do povo, que mancha toda a história
nacional, o roubo na Petrobras tem dimensão única. Há uma propaganda safada,
veiculada nos últimos tempos na TV para confundir o público, evocando as
conquistas da Petrobras e sua história de superação de desafios. Pois bem: o
maior dos desafios será doravante o de varrer da sua direção os criminosos que
o poder político ali instala, como solidários agentes da pilhagem, do saque e
da afronta à dignidade nacional. Pois, afinal, nunca antes foi tão exposta no
país a dissolução moral do poder.
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