segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

TERMINAL DA LAPA

 Carl von Hauenschild

Concordo com a posição que empreendimentos públicos devem ser  feitos a partir de concurso público, tanto faz se esta obra é uma reforma de uma concessão ou não,  se o projeto original é de Lelé, Niemeyer ou José da Silva, vivo ou morto. Sou adepto dos direitos autorais nos moldes do “Creativ Commons” especialmente nas obras vivas, que existem para ser evoluídas ou desenvolvidas. Mais de 90% das obras de arquitetura da atualidade são utilitárias, inclusive concebidas sem a mínima pretensão de criar alguma obra de arquitetura-arte ou arquitetura-marco, onde caberia uma preservação de sua forma original.


Na época da discussão da estação Aquidabã (1998) usamos inclusive, como argumento da solução arquitetônica/ estrutural, apesar de que podia se enquadrar como arquitetura-marco, que sua vantagem como estrutura de aço permitia que fosse desmontada em qualquer momento (quando deixou de ter sua função original) para ser remontada em outro local ou reciclando os materiais.  


Nesta mesma época Lelé projetou a estação da Lapa também como estação de ônibus, mas esta, como terminal e não como o Aquidabã, estação de transbordo. Em função disto discutimos com ele a viabilidade desta estação neste local, nesta configuração e nesta forma arquitetônica. Nossa críticas foram as seguintes:

·         O fim do vale do Convento da Lapa achamos na época, e continuamos achando, não deveria ter sido o local da estação, porque se tornaria uma estação terminal e não uma estação de transbordo periférico do Centro de Salvador que deveria ser colocado no estacionamento São Raimundo onde chegarão os sistemas de transporte coletivo as Av. Vasco da Gama, Garibaldi e Centenária vindo da orla atlântica. Na época, achamos e continuamos achando, que o final do vale do Convento da Lapa não deveria ter sido o local da Estação, porque se tornaria uma estação terminal e não uma estação de transbordo periférico do centro de Salvador, devendo ter sido colocada no estacionamento São Raimundo, aonde chegariam os sistemas de transporte coletivo da Av. Vasco da Gama, Garibaldi e Centenário, vindos da orla atlântica.


·         A construção de uma estação ali eliminaria a possibilidade de desembocar um túnel de baixo custo que permitiria interligar dois anéis de transporte coletivo em volta do Centro (via Comércio interligando com eixo Baixa dos Sapateiros e o eixo Dique) que interligaria a Conceição da Praia com a Barroquinha e o vale da Lapa/São Raimundo (na época estacionamento periférico do Centro). Isto foi essencial para nossa proposta de reforma do Centro, na época, transformando a Av. Sete em calçadão largo, só com uma faixa de ida e vinda entre Campo Grande e Praça da Sé . A estação da Lapa neste local impediu esta evolução futura, essencial para a preservação do centro.

·         Ainda esta estação: Neste grotão somente tinha condições de fazer em 2 pavimentos por que o volume de ônibus ai chegando e como terminal permanecendo por mais tempo. Isto significaria que precisava escada rolante para a quantidade de pessoas subindo e descendo e ainda uma ventilação mecânica permanente para tirar as gases dos ônibus da área coberta. 2 equipamentos que demandam elevados recursos de implantação, operação e manutenção e assim um risco muito grande de  não funcionar muito tempo e assim prejudicar um conforto mínimo de usuário. (exatamente o que aconteceu.). Neste grotão a única possibilidade seria a construção em dois pavimentos, por causa do volume de ônibus, pois como terminal, estes permaneceriam por mais tempo. Isto significaria a existência de escadas rolantes pelo grande número de pessoas e ainda uma ventilação mecânica permanente, para dispersar os gases dos ônibus da área coberta. Estes dois equipamentos demandam elevados recursos de implantação, operação e manutenção, e ainda um risco muito grande de parar de funcionar por muito tempo, prejudicando um conforto mínimo aos usuários (exatamente o que aconteceu).

Ainda hoje defendo a mesma coisa, que nosso centro antigo de Salvador está na UTI e precisa de um plano com visão a médio e longo prazo para dar sustentabilidade a qualquer investimento no sistema de transporte coletivo, tanto com recurso público ou privado de PPP ou de concessão. Isto somente deveria acontecer após o Plano Municipal de Mobilidade ser elaborado e aprovado como plano de desenvolvimento a médio e longo prazo dos sistemas de transporte que, conforme lei federal, deveria ser aprovado até abril de 2015 (que naturalmente não acontecerá, não podendo então receber recursos federais).


Então, em minha opinião, investir agora na Estação da Lapa sem planejamento é dinheiro mal empregado, como também a concessão da Lapa e das bacias de ônibus. Estes atos somente consolidam o “armengue” existente e não resolvem o problema da reformulação e revitalização do centro nem o conforto do usuário, que precisa conviver com os ônibus no subsolo.

Acho que estações de transbordo ou terminais precisam ser integrados com usos comerciais e institucionais em função da otimização dos espaços e seu custo, porque gera qualidade funcional, econômica, e conforto aos usuários.  Só não cabem no subsolo quando se trata de ônibus de autocombustão, o que gera gases.

Ainda hoje esta estação precisa ser integrada com o metrô de subsolo que aumenta a confusão por que esta também não foi planejada para servir bem o centro da cidade alta e a cidade baixa.  Ainda hoje esta estação precisa ser integrada com o metrô de subsolo, o que também não foi planejado, não podendo servir bem o centro da cidade alta e cidade baixa.

Então continuamos no improviso sem resolver o problema existencial da revitalização do centro ou ainda piorando-o.


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