quarta-feira, 2 de outubro de 2013

NAZISTAS NO BRASIL

Esta é a segunda reportagem de uma série publicada no site Opera Mundi.
Quase todas as obras de Frederick Forsyth , embora sejam denominadas romances de ficção, baseiam-se em fatos reais e são fruto de incansável pesquisa e fontes de informação confiáveis, garimpadas de quando era jornalista e correspondente internacional.
Assim, nada foi inventado no livro O Dossiê de Odessa, mostrando a atuação de organização de proteção aos nazistas, profundamente enraizada no Serviço Público da antiga Alemanha Ocidental e também em países da América do Sul, dentre os quais, Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai.
Talvez não com esse nome mas existia sim a rede que possibilitava a fuga de nazistas para a América do Sul, no caso da matéria em foco, acobertada pelo bispo Alois Hudal.
Seja lá com o nome Odessa ou Linha de Ratos, uma coisa é certa: Pindorama sempre foi a Casa de Mães Joana e os criminosos de guerra para aqui se refugiarem, bastava portarem uma cédula de identidade.
Abraços
Franklin

Em carta, Wächter afirma que nazistas entravam no Brasil sem passaporte
Comandante da SS explica a colega nazista como fugir para a América do Sul e diz que, para o Brasil, uma carteira de identidade era suficiente
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Uma carta redigida à máquina, com data de 10 de maio de 1949, é um dos tesouros históricos do sótão do Castelo Hagenberg, na Áustria, sob a guarda de Horst Wächter. O documento de duas páginas, preservado com delicadeza, apresenta detalhes sobre a famosa “Linha dos Ratos”, rota de fuga nazista acobertada pelo bispo Alois Hudal, que levou ex-oficiais de Adolf Hitler à América do Sul.
A carta, segundo Horst, foi escrita por seu pai, Otto Wächter, comandante da SS e ex-governador da Cracóvia e Galícia. O documento está endereçado a um certo Ladurner, amigo do nazista que vivia em Bolzano, na Itália, mas nunca foi enviado. Wächter morreria um mês depois de redigi-la. Os principais assuntos da missiva são estadias em Roma e rotas de fuga para Brasil e Argentina.

Ouvidos por Opera Mundi, especialistas que estudam a fuga de nazistas para a América do Sul afirmam que vários indícios sugerem a veracidade da carta. Tanto Daniel Stahl, autor de "Nazi Hunt: South America’s Dictatorships and the Avenging of Nazi Crimes" (Wallstein, Alemanha), como Gerald Steinacher , que escreveu "Nazis on the Run - How Hitler's Henchman Fled Justice" (Oxford University Press, Reino Unido), avaliam que o documento traz informações importantes sobre a rota de fuga dos aliados de Adolf Hitler.

"A rede de pessoas que possibilitaram a fuga foi muito ampla e, com certeza, agora podemos dizer que Wächter está entre elas, o que era desconhecido até hoje", afirma Stahl.

Ainda que diga que não é possível ter 100% de certeza de que a carta é verídica, Steinacher apontou que esse gênero de correspondência, "com conselhos, escrita a partir da Itália para antigos companheiros e pessoas procurando emigrar para escapar da Justiça, é comum". "Isso não significa que Wächter fosse um grande organizador, mas que deu orientações a outros."

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Os papéis foram recolhidos pela mulher do oficial, Charlotte Bleckmann, anos depois de sua morte na capital italiana. Otto Wächter, que se escondia sob o nome falso Alfredo Reinhardt, teria sucumbido a uma icterícia após nadar nos canais da cidade, mas não há registros do óbito além de notícias de jornais italianos e austríacos da época.

A edição de 9 de setembro de 1949 do jornal Weltpresse confirma a morte de Wächter e pergunta, em sua manchete, sobre o paradeiro de seu arquivo, que foi destruído. A carta, segundo Horst, foi uma das centenas de documentos guardados por sua mãe. Nenhum deles fala sobre o Holocausto nos territórios governados pelo comandante da SS.

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A carta
Caro Ladurner!
Eis que volto agora da cidade completamente acabado. Durante o dia a temperatura chega a graus consideravelmente mais quentes. Mas as noites esfriam maravilhosamente. Eu agora entendo porque todos os homens aqui vestem camiseta regata por baixo da camisa. Resfria-se muito facilmente com a mudança de tempo, razão pela qual o guia Baedecker e a experiência de Deterling acham aqui muito pior que no Norte.

Leia aqui o restante da carta de Wächter

Documentos necessários
Otto Wächter mantinha laços próximos com o bispo Alois Hudal e orientou na carta seu colega, Ladurner, sobre os métodos para buscar refúgio na América do Sul. O comandante da SS conseguira angariar diversas informações sobre uso de passaportes da Cruz Vermelha para fugir, exigências de oficiais de fronteira de Brasil e Argentina e vistos.
“Segundo Hu. [possivelmente o bispo Alois Hudal], passaportes da Cruz Vermelha não serão mais expedidos após o fim de maio. Essa função será então transferida para um departamento do Vaticano. Ele acredita que o documento emitido pelo Vaticano poderá ter menos valor que os atuais (que por sua vez já possuem reconhecimento bastante limitado)”, escreve o comandante da SS.
É notório que a Cruz Vermelha, no episódio mais vexatório de sua história, entregou passaportes a oficiais nazistas, entre eles Adolf Eichmann, Josef Mengele e Klaus Barbie, que fugiram - pelo menos momentaneamente - para o anonimato. Segundo pesquisa conduzida por Gerald Steinacher, da Universidade Harvard, pelo menos 120 mil discípulos de Hitler se beneficiaram dos papéis. A organização se desculpou publicamente pelo ocorrido.
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Já o Vaticano, que também teve sua parcela de cumplicidade com fugitivos nazistas, nunca comentou as acusações de emitir, através de uma comissão de refugiados, identidades falsas - são elas que, muito provavelmente, Wächter cita na carta com “reconhecimento bastante limitado”.

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Entrada no Brasil
Wächter esclarece a Ladurner que entrar na Argentina acarreta “conhecidas dificuldades” e afirma que “candidatos” foram até o Brasil “para mudar de profissão”. “Você deverá fazer o mesmo quando estiver do outro lado, para aumentar suas chances de sucesso”, escreve o comandante da SS, para então listar as exigências do consulado brasileiro.
Governo da Polônia
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[Foto de Otto Wächter durante seu período na Polônia]


São elas: passaporte da Cruz Vermelha, desde que acompanhada de documento anterior à guerra, certidão de nascimento, certidão de casamento, carteira profissional e declaração de que não era comunista. Em seguida, o nazista acrescenta que “os brasileiros na verdade não reconhecem os passaportes da Cruz Vermelha, mas se contentariam com um passaporte austríaco ou I.Karte [carteira de identidade]”.

“Além disso, é possível falar de maneira bem aberta com eles, sem que as autoridades austríacas tomem conhecimento”, afirma Otto Wächter, dando mostras de uma receptividade maior por parte dos brasileiros.
Estadia e alimentação
“Quanto a uma eventual permanência aqui [sob o zelo da Igreja Católica em Roma], seria possível lhe arranjar almoço e jantar de graça no refeitório papal, em princípio por uma semana (renovável)”, recomenda Wächter ao amigo Ladurner. “É meio primitivo, assim como a companhia, mas é o que há”, completa.
O comandante da SS tinha na manga todos os custos necessários para permanecer às escondidas com ajuda do bispo Alois Hudal e sobre o eventual financiamento de uma organização que poderia ajudá-los a fugir, que só aceitava protestantes. Ao final da carta, Wächter reafirma que a oferta principal é para ir para o Brasil.
“Se você tem interesse nas coisas daqui discutidas e ainda consegue encarar todos os obstáculos e cumprir todos os requisitos, aí sim as suas despesas e o seu tempo estarão mais que justificados. No caso de você não querer ir ao Brasil, e essa oferta vale só para lá, você poderá economizar seu dinheiro e deixar a manivela girando aqui comigo”, escreveu ele.


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