Defender que Cláudia seja poupada
é não só irracional
como extremamente anti-feminista.
Por Nathalí Macedo
Pouca gente sabe quem é Claudia Cruz. Confesso que esse nome nunca me ocorrera antes – em manchetes, conversas despretensiosas ou timelines da vida – até que os noticiários veiculassem que ela – a esposa de Eduardo Cunha, como é conhecida e mencionada atualmente – gastara uma pequena (?) fortuna (proveniente de dinheiro sujo da Lava Jato)depositada em contas secretas na Suíça em seu nome com viagens e academias de tênis.
Surgiu – como não poderia deixar de ser – uma grande polêmica na internet: Cláudia Cruz deve ser responsabilizada penalmente?
Há boatos de que Cláudia estaria sendo responsabilizada pela sujeira de seu vil esposo. Uma mulher ingênua, cruelmente usada nos crimes do marido.Apenas uma marionete nas mãos de quem articula e detém o poder de verdade: um homem, é claro. Honestamente, esse discurso me envergonha.
Falam como se ser mulher fosse exatamente estar em um lugar de vulnerabilidade. Como se, por ser esposa de um político sujo e corrupto, Cláudia (coitada!) estivesse sendo injustamente penalizada. E o pior: diz-se isto em nome do feminismo – um feminismo que eu, particularmente, não conheço.
Defender que Cláudia seja poupada é não só irracional como extremamente anti-feminista – porque nega tudo aquilo o que nós, mulheres, sempre dissemos: nós não precisamos ser café-com-leite em nada. Nem no mercado de trabalho, nem na mídia, e nem em investigações policiais, como é o caso.
Afirmar que Cláudia foi uma vítima das falcatruas do próprio marido é supor que uma mulher não pode ser atuante nem mesmo criminalmente; está sob a sombra de seu marido, exatamente como dissemos que não deveria ser.
Não peçam piedade por Cláudia Cruz. Não coloquem-na em um lugar de vítima que claramente não lhe pertence. O feminismo – e, acima disto, o bom-senso – diz justamente o contrário. Mulheres são donas das próprias escolhas e responsáveis por suas consequências – exatamente como qualquer outro. O crime de Cláudia não foi se casar com um canalha – este comete-se todos os dias no mundo inteiro, aliás. Ela foi mulher (e humana) o suficiente para gastar e movimentar um dinheiro sujo; que seja também mulher e humana o suficiente para responder por isso. Ser mulher não nos torna menos em nada – nem mesmo menos culpadas, se comprovadamente a culpa nos pesar sobre as costas.
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