quarta-feira, 8 de abril de 2015

"AMACIAR", EIS A TÁTICA

 do poder contra a indignação

JC Teixeira Gomes                                                                                                                                               
 Em meu livro “Memórias das trevas” e em vários artigos, já escrevi que o poder não existe a favor da sociedade, mas sim do grupo político que o detém. Peço aos leitores que meditem um pouco sobre essa afirmação, bastando evocar os atos oficiais que frequentemente prejudicam a vida dos cidadãos e em nada melhoram ascondições sociais.
 A corrupção se coloca nesse quadro como o pior dos males, pois é dentro do próprio poder que se instalam os mecanismos que dificultam combatê-la. A corrupção está intimamente vinculada ao poder, não custando lembrar a frase famosa segunda a qual“ o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente”, que já li atribuída a um lorde inglês e até a Confúcio.
    As vigorosas manifestações do povo brasileiro no último dia 15 repetiram os protestos de 2014, que foram inéditos em nossa vida social, mas não obtiveram nada de prático. E isto porque, ao lado da força das instituições em que se apoia, notadamente no aparato jurídico e nas instâncias políticas de sustentação, o poder é também ardiloso. Frequentemente os governantes fingem, diante dos protestos mais ruidosos, estar de acordo com as mudanças exigidas pela indignação popular, mas na verdade procuram neutralizá-las com a tática do “amaciamento”.
 Foi assim que o comparecimento maciço às ruas em 2014 resultou em nada, e que as passeatas de 15 último, enchendo praças e avenidas, estão sendo progressivamente amortecidos pelos fingimentos do poder. Mas porque, afinal, somos forçados, pela astúcia oficial, a conviver com o triunfo da mentira política?
      A principal causa é o poderio do aparato legal que ampara as instituições de governo. Elas funcionam como um instransponível biombo, que só as revoluções violentas desarticulam. Depois, a mentira é sustentada pelo jogo do interesse da política partidária. Eis o que explica a aparente desfiguração do PT, que, fingindo de início ser um partido popular de esquerda, ao consolidar-se no poder, e para preservá-lo, passou a fazer alianças com os representantes mais retrógrados da vida política nacional, tais como Maluf, Collor,Renan Calheiros, Sarney e tantos outros, que, articulados com Lula e Dilma, ajudam a preservar o quadro de imobilismo que impossibilita a renovação reclamada pelo povo.
Ao lado disso, a força partidária do PT, consolidada por esse esquema de conveniências, levou o partido a agir sem dar a menor satisfação à sociedade. Isto ocorreu, por exemplo, nas indicações para cargos relevantes, como, para citar o caso mais atual e traumático, para a direção da Petrobrás.
   Vi, por exemplo, na TV, a defesa que Sérgio Gabrielitentou fazer da sua gestão à frente da grande empresa. Mas, para citar apenas um dado, que defesa seria possível para quem, em tão alto posto, concordou em efetuar a desastrosa compra da refinaria de Pasadena, aliás aprovada por Dilma Roussef,  quando no conselho administrativo da Petrobras? Então é possível que essa solidária cadeia de irresponsabilidades, que abriu as portas para o dilúvio de corrupção hoje conhecido, seja considerada apenas como falhas administrativas irrelevantes, para perplexidade e inconformismo de todo o Brasil?
    Nos dois casos específicos, Gabrielli foi pelo menos punido ao perder o direito de disputar o governo da Bahia, que era sua grande ambição. Dilma Roussefvive, hoje, o inferno político da rejeição de todo o Brasil consciente. Aos poucos, enfim, com lentos avanços, o povo vai provando que não é uma massa morta, um mero joguete nas mãos do poder em suas omissões, enganos ou ardis.


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