segunda-feira, 16 de março de 2015

PATRIMÔNIOS IMATERIAIS

Bahia vai ganhar seis novos Patrimônios Imateriais do Estado

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O 'Zambiapunga' do Baixo Sul baiano, presente em Nilo Peçanha, Valença, Taperoá, Cairú e na localidade de Morro de São Paulo, a 'Festa do Divino', de Bom Jesus da Lapa, a 'Procissão do Fogaréu', de Serrinha, e a 'Chegança e Marujada', existente em vários municípios, são alguns dos bens culturais que podem receber a chancela definitiva de 'Patrimônio Imaterial da Bahia'.

Os trabalhos de pesquisa, documentação e análise histórica-conceitual estão sendo realizados por equipe multidisciplinar do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), formada por antropólogos, historiadores, arquitetos e fotógrafos. Os terreiros Omo Ilê Agboulá e Tuntum Olukotun, ambos de Baba Egum - culto aos ancestrais - da Ilha de Itaparica, também estão sendo estudados pelo IPAC, autarquia da Secretaria de Cultura do Estado (SecultBA).

Esses bens culturais receberam notificação provisória do Instituto entre julho do ano passado (2014) e fevereiro deste ano (2015). "Agora, aguardam a finalização dos estudos para serem apresentados como dossiês à SecultBA e ao Conselho Estadual de Cultura (CEC), que faz a votação para torná-los protegidos oficialmente", explica o diretor geral do IPAC, João Carlos. Segundo ele, caso endossados pelo CEC, os dossiês são encaminhados para aprovação do governador do Estado que assina decretos dos bens como 'Patrimônios Imateriais' e os envia para publicação no Diário Oficial.

De acordo com o diretor do IPAC, o conceito de 'Registro Especial' é utilizado para proteger bens intangíveis, como festas e manifestações populares, ofícios, conhecimentos, modos de ser e de fazer culturais. Enquanto os bens materiais, como edificações e obras de arte são protegidos via 'tombamento'. "Atualmente, o IPAC contabiliza 19 registros definitivos de bens intangíveis e 187 bens materiais tombados", relata João Carlos.

Exibindo Terreiro Abounlá2.ftLazaroMenezes.JPG

Dez terreiros de candomblé da região de Cachoeira e São Félix também receberam registro especial do IPAC, esses já decretados pelo Governador em novembro de 2014. Uma das vantagens é que quando são protegidos pelo poder público os bens culturais passam a ter prioridade nas linhas de financiamento municipais, estaduais e federais.

Os bens protegidos são inscritos em livros. Se aprovados, o Fogaréu, de Serrinha, e a Festa do Divino, de Bom Jesus da Lapa, serão inscritos no 'Livro de Eventos e Celebrações'. O Zambiapunga e as Cheganças e Marujadas no 'Livro de Expressões Lúdicas e Artísticas'. Já os terreiros de Baba Egum serão inscritos no 'Livro de Espaços destinados a Práticas Culturais Coletivas'. Outros dados sobre os registros via Gerência de Patrimônio Imaterial (GEIMA) nos telefones (71) 3116-6741 e 3116-6828 ou endereço eletrônico geima.ipac@ipac.ba.gov.br. Fique informado no site www.ipac.ba.gov.br, via Facebook 'Ipacba Patrimônio' e no Twitter @ipac_ba.

Exibindo Fogaréu Serrinha 17.04.14 ftLazaroMenezes.JPG

BOX opcional 1 - Festa do Fogaréu em Serrinha - O Fogaréu acontece em Serrinha é desde o século XVIII uma das grandes festas populares feéricas, justamente por seu caráter maravilhoso. A cerimônia é rica em detalhes e beleza plástica. As figuras encapuzadas remontam as cerimônias espanholas, mais especificamente as de Toledo e Sevilha e ao período da inquisição. A escuridão, as tochas, a rapidez e os encapuzados, criam um clima medieval assustador e excitante de beleza ímpar. Homens encapuzados com vestes coloridas carregam tochas acesas entre as ruas escuras, representando o caminho dos romanos até o momento da prisão de Cristo. A procissão teve seu apogeu na Idade Média, quando era planejada como um grande acontecimento religioso e social, com rituais próprios e participação em massa de fiéis. As procissões medievais mais importantes foram realizadas na Península Ibérica. Entre as mais antigas que podem ter tido origem na adaptação de rituais pagãos, figuravam a das Rogatórias, para pedir boas colheitas, e a do Domingo de Ramos, que comemora a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Diferente de outras manifestações religioso-populares, como as festividades do Divino, a Procissão do Fogaréu e seu personagem símbolo, o farricoco, comparecem tanto em Portugal, quanto na Espanha, e em algumas de suas colônias na América, contribuindo para que possamos designá-los como de origem ibérica. De acordo com Adalgisa Campos (2005), as irmandades foram instituições pioneiras na difusão e proliferação dos ritos do culto da Paixão, com destaque para as do Santíssimo Sacramento, do Senhor dos Passos e da Penitência. Conforme nos ensina Paulo Bertran (2002), citando Alexandre Herculano, o farricoco estaria associado à penitência, a uma punição imposta àqueles que não seguissem as determinações da Igreja, procedimento imposto aos burgueses de Braga, assim como em Sevilha, na Espanha, prescrito em uma das muitas revoltas que tiveram contra o arcebispado daquela antiga Sé de Portugal. Em vez da pompa e luxo demonstrados pelas irmandades, representando os vistosos cavaleiros vestidos de seda com espadas de prata e alamares a buscar Cristo para aprisioná-lo, os 'desviantes' deveriam comparecer as celebrações -com a estamenta e lã grosseira dos pecadores, e o chapéu cônico, o capuz dos condenados (...) correndo descalço a machucarem os pés nas pedras à luz de archotes.

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BOX opcional 2 - Festa do Divino Espirito Santo em Bom Jesus da Lapa - A festa do Divino Espírito Santo, é de origem portuguesa, foi instituída pela rainha D. Isabel, no século XIV. Os elementos que compõem a festa estão relacionados à história, cultura e religiosidade popular. Seus eventos fazem referências aos colonizadores e aos povos trazidos como escravos para terras brasileiras. Na cidade de Bom Jesus da Lapa, a festa teve início em 1912 e completou 102 anos no ano passado (2014). As celebrações ao Divino Espírito Santo ocorrem em torno do Santuário de Bom Jesus e nas casas das pessoas escolhidas para organizar as celebrações da Festa do Divino, tomando as ruas da cidade. A festa é realizada 50 dias após a Páscoa, durante o Pentecostes, celebração do calendário cristão que representa a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos. A festa atrai um grande contingente de romeiros de outros estados. No ano passado (2014) cerca de 800 pessoas, em 16 romarias, chegaram de Minas Gerais e Goiás. Além de romeiros de outras cidades baianas como Porto Seguro, Governador Mangabeira e da Chapada Diamantina. A Prefeitura Municipal de Bom Jesus da Lapa, através da Secretaria Municipal de Turismo, Cultura, Desporto e Lazer, através da então secretária Roberta de Andrade Neves foi quem solicitou o Registro.

Exibindo Cheganças e Marujadas.ftLazaroMenezes.jpg

BOX opcional 3 - Cheganças e Marujadas em Saubara e outros municípios. Manifestação encontrada em várias localidades do território nacional, as Cheganças estão vinculadas historicamente à religiosidade popular e à devoção de santos católicos como São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e São Domingo Gusmão. Compostas por danças, performances ritualizadas, músicas e cantos, as Cheganças e Marujadas retratam a dinâmica social e cultural dos povos portugueses e africanos que ocuparam o território brasileiro. Os trajes utilizados na manifestação se assemelham aos usados pelos oficiais da Marinha - branco com divisas azuis - e é deste modo que as Cheganças buscam reproduzir, através dos corpos de seus participantes, o movimento das embarcações que navegavam pelos mares em busca de novos portos, além de encenar a chegada dos colonizadores em terras de além-mar. Com o intuito de preservar esta manifestação que se perpetua através dos tempos, a Associação Chegança dos Marujos Fragata Brasileira enviou ofício ao IPAC solicitando o Registro das Cheganças e Marujadas como Patrimônio Imaterial do Estado da Bahia.

BOX opcional 4 - É um terreiro do século XX, do Culto aos Egum (o culto aos mortos ilustres, os ancestrais), localizado em Ponta de Areia, Itaparica. Esse terreiro foi reconhecido como Patrimônio Material e Imaterial Afro-brasileiro pela Fundação Cultural Palmares (FCP) em 2006 e encontra-se em processo de tombamento nacional no IPHAN. Todavia, em ambos os processos, não foram abordados os demais espaços sagrados constitutivos do templo fora do seu perímetro interno. Espaços esses oriundos de diversos processos de desterritorializações e reterritorializações pela cidade em virtude das perseguições policiais nos anos de 1940 e da especulação imobiliária nos anos de 1960 e 1970, que originou, nesse nomadismo forçado, a permanência, reminiscência e vestígio de elementos e espaços sagrados espalhados por toda a cidade. O Omo Ilê Aboulá foi fundado em 1940, na localidade de Ponta de Areia próxima a praia, num local que, na atualidade, fica atrás da Capela de Nossa Senhora das Candeias em Ponta de Areia, no município de Itaparica. Foi fundado por Eduardo Daniel de Paula, filho de nagôs, juntamente com seus familiares e com descendentes de Tio Marcos e Tio Serafim, antigos sacerdotes. Entretanto, os anos ao longo das décadas de vinte e trinta e o início dos anos quarenta constituíram o auge da repressão e perseguição aos candomblés na Bahia (BRAGA, 1995b), o Omo Ilê Abgoulá, nesse cenário, também sofreu uma perseguição voraz da polícia. O terreiro possui como singularidade arquitetônica, o Ilê Awô o Lessem, que é o lugar dos assentos dos ancestrais, dos eguns, onde são feitos, iniciados os sacerdotes do culto aos ancestrais e, também, onde estão os assentos coletivos. Possui uma espacialidade em rede por funcionar em três lugares simultaneamente. Foi fundado nos anos 40, na orla de Ponta e Areia. Depois da perseguição policial teve que se transferir para o Barro Vermelho, mais em cima, onde funcionou dos anos 1940 até os anos 1960, quando a Ilha de Itaparica passou por um processo de adensamento e criaram diversos loteamentos e aquela área foi tomada pela especulação imobiliária; perderam áreas de matas rituais, perderam a fonte sagrada de Oxum. Mãe Senhora, que liderava o Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, em Salvador, na época, era a Iá Egbé dessa casa em Itaparica, comprou um terreno na Bela Vista, onde está localizado o terreiro hoje. Esses três espaços são utilizados simultaneamente, no cotidiano, para os rituais, obrigações, tiradas de folhas, ervas sagradas e medicinais. Na África, no Império iorubá de Oyó, os eguns tinham diversas atribuições na vida social, econômica, política, religiosa, cultural, militar; no Brasil, a sociedade de culto aos mortos, ancestrais, permaneceu no sentido de dar coesão a comunidades afrobrasileiras através do culto aos mortos que regiam o cotidiano dos seus membros. Artigo completo de Fábio Velame disponível em:http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/1300036656.

Exibindo Tuntun Olukotun.ftLazaroMenezes.JPG

BOX opcional 5 - Terreiro Tuntun Olukotun - Segundo os seus membros este terreiro foi fundado em 1850, completando portanto em 2015, 165 anos de existência. Os membros do terreiro de culto a Egùngùn, Tuntun Olukotun, estão lutando para ter o reconhecimento das autoridades públicas para o tombamento do terreiro, e assim ter resguardo diante de ameaças futura contra a preservação do espaço sagrado. São 164 anos de trabalhos ininterruptos, mantendo a tradição e cultura trazida pelos nossos ancestrais africanos. Existe um videodocumentário (https://www.youtube.com/watch?v=vGPwvE0LnuI) que registra a reunião do dia 5 de janeiro de 2014, com o atual sacerdote do terreiro, juntamente com pessoas ligadas a política municipal, representantes de grupos de cultura afro-brasileira e historiadores. Na reunião, as pessoas presentes salientaram a importância do terreiro para a história e cultura local e também nacional, pleiteando assim, o tombamento do terreiro que é considerado o Terreiro de Egùngùn mais antigo do Brasil, em atividade.


Crédito fotos obrigatório: Lázaro Menezes

Assessoria de Comunicação - IPAC - em 16.03.2015
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