terça-feira, 10 de março de 2015

OS EXCREMENTOS DO VICE...

... E A LISTA DE JANOT
malu fontes*
Se há uma coisa da qual não se pode acusar o vice-governador da Bahia, João Leão (PP), é de não ter sido sincero em sua reação assim que soube que estava na lista (de acusados de propina) do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Leão entrou literalmente para os anais republicanos quando retrucou que estava “cagando e andando para esses cornos todos” (sic). Sim, não se sabe direito quem são os cornos, se Janot e seus assessores, se os membros do Poder Judiciário que o investigam, se a Polícia Federal, os delatores premiados ou se, na hipótese mais sincera, os eleitores que o criticarão por estar na lista. A coragem não chegou ao ponto de nominar os cornos.

Todo mundo sabe que acusado não é culpado. Mas todo mundo sabe mais ainda que é mais fácil ganhar na loteria sozinho com prêmio acumulado que apontar um político com sucessivos mandatos e cargos de poder no currículo que nunca tenha se beneficiado de alguma negociata, um acordo escuso ou que tenha financiado suas campanhas e aumentado seu patrimônio exclusivamente com dinheiro lícito. O jogo do poder é sujíssimo e, uma vez nele, a lógica parece assegurar que não há lugar para a assepsia. É por essas e outras que Lindbergh Farias, hoje senador pelo PT do RJ, o símbolo dos jovens cara-pintadas no impeachment de Fernando Collor, aqueles que iriam mudar o país, está hoje na mesma baciada de lama em que está seu velho antagonista, na mesma lista suja de acusados de corrupção em que está o ex-presidente que ele ajudou tanto a derrubar.

É pouco provável que os companheiros de partido e de lista de Leão pensem diferente dele quanto ao cagar e andar diante de acusações. O fato é que, entre todos, somente ele pronunciou tal escatologia, o que grudará mais em sua biografia que marca de nascença. Há certas coisas que a liturgia do cargo cassa dos ocupantes do poder o direito de fazer e dizer. E uma vez fazendo e dizendo, não há volta. Não há nota bem escrita produzida por assessoria bem paga capaz de corrigir o estrago. Leão pediu desculpas numa nota  irretocável. No entanto, quantos ficaram sabendo de uma frase sequer do texto do pedido de desculpas? Essa dificuldade das desculpas suplantarem o erro original é da natureza da vida. No mundo da política, então, adquire a ordem da impossibilidade quase plena.

Bonitona
Embora não haja dúvidas de que Paulo Maluf, por exemplo, passará para a história como uma lenda da corrupção brasileira, passará também por um dia ter dito algo impronunciável por uma autoridade: “Se está com desejo sexual, estupra, mas não mata”. Esse foi um conselho (indignado) dado por Maluf nos anos 80 a estupradores que matam suas vítimas. Das desculpas, ninguém lembra. O mesmo pode-se dizer de Martha Suplicy, com “relaxa e goza”, de Antônio Magri com “cachorro também é gente”, de Collor com “duela a quem duela”, etc. Mesmo reiterando que sua fala se deu num momento de indignação e de até o governador sair em sua defesa considerando a fala uma reação normal de um homem honesto indignado, não há volta. A essa altura, a reação de Leão já virou meme nas redes sociais, com legendas que vão de Johnnie Lion a cagão andarilho.

O vice baiano parece prezar as influências do bom e velho Odorico Paraguaçu. Um dia depois de ter dito que estava cagando e andando, se arrodeou todo de cor de rosa e espalhou pelas redes sociais uma imagem cheia de flores e laços para homenagear as mulheres em seu dia: “Parabéns Bonitona” (sic), pois Leão que é Leão não vai perder tempo com vírgulas. E o que dizer da expressão bonitona? Vice-governador, não é por nada, não, mas o tempo das bonitonas era o das irmãs Cajazeiras. Foi-se. E em tempos politicamente corretos e de nome em lista, fica a dica: não é de bom tom esquecer as feias. Elas votam.
*  Malu Fontes  é jornalista e professora de Jornalismo da Ufba

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