terça-feira, 2 de setembro de 2014

OS CANDIDATOS, O ABORTO E OS GAYS

MALU FONTES

Embora na opinião da maioria das pessoas os políticos sejam, como se diz no popular, tão caras de pau, tão trabalhados nas artes do óleo de peroba na cara, que são incapazes de se constranger diante de quaisquer temas que lhes sejam apresentados, na prática a coisa não é bem assim. Não há candidato que não tenha o seu ponto fraco, o seu calcanhar de aquiles, que, quando apontado ou tocado, seja por adversários ou pela opinião pública, não o faça tremer nas convicções. Um exemplo concreto disso pode se ver nessa e nas eleições anteriores em relação aos candidatos à Presidência da República quando confrontados com o tabu do aborto e com temas relacionados à comunidade gay. 
Quer ver um deles pedir a morte do interlocutor, qualquer um dos três, para citar os melhores colocados nas pesquisas de opinião – Aécio Neves, Dilma Rousseff e Marina Silva? Basta uma pergunta sobre o aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo ou a adoção de crianças por esses casais. Diante desses temas, veem-se respostas evasivas, contextualizações que a nada respondem, discursos do tipo peixe-ensaboado e tergiversações, para usar uma palavra adorada pela presidente Dilma. Tergiversar é fugir das respostas, sair pela tangente e não dizer aquilo que o interlocutor quer saber. Enfim, aquele blá blá blá que o eleitor vê durante os debates eleitorais, em que um pergunta sobre o alho e o outro responde com o bugalho. 
Se tergiversar já é a prática preferida por natureza pelo bicho político, o que dizer, então, quando se fala de temas que para praticamente todos eles são tão espinhosos, como o aborto e as questões relacionadas à diversidade sexual? Como nenhum deles quer perder o voto dos brasileiros que são favoráveis à legalização do aborto e muito menos quer abrir mão dos votos dos gays, grupo de eleitores que, somados, está muito longe de ser um número considerado desprezível quantitativamente, a saia justa e as respostas escorregadias dão o tom nas reações. 
Não à toa, a notícia mais importante do fim de semana foi o recuo da candidata Marina Silva quanto aos direitos dos casais gays em seu programa de governo recém-anunciado. Na sexta-feira, o programa mencionava explicitamente o combate à homofobia e o apoio ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. No sábado, a candidata atribuiu a presença desses termos a um erro e, numa errata, mudou tudo para termos genéricos. Coincidência ou não, o fato é que, de um dia para o outro, entre a citação e a mudança, houve uma pedra no caminho de Marina. 
Membro da Assembleia de Deus, igreja fortemente influenciada pelo pastor Silas Malafaia, a candidata recebeu bordoadas e ameaças do pastor, que lhe deu como prazo o dia de hoje para manifestar-se claramente contra a causa gay em seu programa de governo. Do contrário, assegurou, vai fazer o pronunciamento mais duro que já fez contra um candidato à Presidência da República. Pelo sim pelo não, Marina mudou os termos. Já seus aliados juram por G, L, S, B mais T que uma coisa não teve nada a ver com a outra e tucanaram o argumento. A alegação é um primor: foi uma “falha processual na editoração do texto”. 
A pergunta vale não apenas para Marina, mas também para Dilma e Aécio, todos igualmente escorregadios quanto aos dois temas em suas campanhas e trajetórias políticas: quando candidatos ao cargo máximo da nação não terão medo dos conservadores e religiosos e poderão dizer que a legalização do aborto não obriga ninguém a abortar e que a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo não impedirá que heterossexuais continuem casando com pessoas do sexo oposto?

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