segunda-feira, 10 de setembro de 2012

FIQUEI COMOVIDO...

... AO RECEBER ESTA MENSAGEM DE UM VELHO AMIGO.
PARA SER FRANCO, NÃO FORAM POUCAS AS VEZES QUE OUVI COMENTÁRIOS DE TIPO "E ELE NEM É DAQUI".
MAS POR OUTRO LADO, SEI QUE TENHO NESTA TERRA UM PUNHADO DE VERDADEIROS AMIGOS QUE ENTENDEM OS MOTIVOS QUE ME LEVAM A QUESTIONAR CERTAS SITUAÇÕES, CERTOS ATOS.
QUEM AMA, CASTIGA ...OU CRITICA.

Quando aqui vc "aportou", éramos pouco mais de 95.000.000 de brasileiros.
37  anos depois, tornamo-nos 193.000.000
Portanto, o fato de aqui estar e permanecer sponte propria, lutando quixotescamente todos os dias pelos interesses do povo brasileiro, lhe confere a nacionalidade "tupiniquim".

E mesmo se assim não fosse, como já lhe adiantara, o fato de viver como brasileiro há quase 4 décadas faz de vc um brasileiro há mais tempo do que os 100.000.000 de nós que aqui ainda não estávamos em 1975. Mas isto não he obriga, entretanto, a ser um patriota, especialmente se for um  dos patriotas hipócritas que beija a bandeira nacional (como os jogadores de futebel recém contratados beijam os escudos de seus clubes) ao mesmo tempo que guardam suas suspeitíssimas poupanças em contas numeradas dos paraísos fiscais, que "matam" para exercer funções públicas e as exercem vestidos em elegantes paletós talhados por maisons francesas ou italianas, que andam perfumados com os mais puros extratos das perfumarias européia, que calçam mocassins de cromo alemão, que relaxam do stress do trânsito a bordo de automóveis Mercedes último modelo, cujos filhos somente se divertem nas Dysneys, americana ou européia, cujas esposas são habituées da Daslu, que falam o idioma inglês com sotaque americano, britânico ou australiano, conforme seja a nacionaliade do interlocutor.

Em sua homenagem, prezado Dimitri, cidadão do Mundo e do Brasil, o poema Patria Minha, de Vinicius de Moraes:

Pátria Minha


A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: ag uarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria min ha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes."
 


Um comentário:

  1. Caro Dimitri.
    O fato de Vc. não ser daqui,não importa. O que
    importa na verdade, é Vc.ter vestido a camisa
    da Bahia e tambem do Brasil. A defesa que vc. promove e apregoa aos quatro ventos,em relação
    a cultura,por si so,já é o bastante para o reconhecimento não so dos seus diletos amigos
    e admiradores, más, e sobretudo, de todos os baianos, quem amam a nossa velha e querida Bahia.
    O resto é o resto.Afinal,não por acaso lhe chamo de meu guru. Um forte abraço,Climerio
    Andrade

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