Para ir até a esquecida Itapagipe – esquecida, a não ser quando o prefeito inventa delírios de especulação imobiliária – me lambuzar com camarões, passei por Paris e Casablanca e até briguei com certa companhia, que até hoje não reconheceu meu direito às milhagens de vinte dos quarenta participantes do Zambiapunga, no Festival de Rabat em 2003. Passagens por mim pagas (com ajuda francesa) em dinheiro vivo. A Justiça (?) talvez resolva finalmente oficializar meus direitos... após meu funeral. Em compensação, o advogado contratado, Joel Barreto, homem culto e comunicativo, que acabou virando amigão, dia desses me levou para conhecer, a cem metros do branco forte de Montserrat, O Rei do Mar, restaurante do irmão. Você já foi a Itapagipe, nega? Não? Então aproveite um daqueles fins de dia quando o por de sol, de tão cinematográfico, ameaça marear seus olhos.
Lá tudo é beleza, calma e volúpia. Merci Baudelaire. Sente numa mesa de plástico amarelo sobre ufanista fundo verde e aproveite para dar uma corujada no DVD de Caetano e Maria Gadu. Sussurram sem incomodar gourmets e comilões. Agora encomende, sem mais demora, os ditos camarões. Justificam amplamente a viagem, nem que seja desde Itapoã ou São Paulo. O tempero faria esverdear de inveja qualquer Paul Bocuse. Posso até afirmar que, nos meus 75 anos de andanças pelo planeta, nunca comi iguais. O segredo? Um tempero onde, até meu paladar consegue adivinhar, entra mostarda. Deixo a analise completa a minha amiga Daniela Castro, gastrônoma da mais alta competência.
E mais: como brinde da casa, terá direito à tal da baianidade, sem oba-oba nem opaiós. Gentileza e eficiência. A freguesia é alimentada pela vizinhança e os amigos. Aprofundando sempre mais suas raízes no barro natal, o amigo Joel nasceu, cresceu, casou e teve sua filha na encosta de Montserrat. Não precisou provar a evidente evolução socioeconômica migrando para “les beaux quartiers”, Pituba, Itaigara ou Caminho das Árvores. De sobremesa, talvez você veja o último saveiro rumo a Maragogipe ou Nazaré das Farinhas.
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