Páginas

terça-feira, 7 de julho de 2015

ZELADORES DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO

LUIZ FREIRE


( Dedico este rascunho a todos os adoradores do arquiteto Lelé e aos projetos de transformação das feiras populares de Salvador, sendo desenvolvidos pelo governo estadual. )
O alvo do raio gourmetizador do Governo do Estado agora aponta para o Mercado São Miguel, como fizeram com a Ceasinha Rio Vermelho. Criarão mais um ambiente de assepsia social, onde uma determinada casta não precisará compartilhar os espaços com as outras. Além disso, mais um espaço de estacionamento. Chegarão de carro, subirão de elevador, passando por cima dos dessemelhantes e alcançarão o "novo" Centro Antigo de Salvador, a "nova" Rua Chile, a Arena Fonte Nova, o fórum Ruy Barbosa, além de facilitar o acesso ao novo centro administrativo da prefeitura ... Mas tudo isso tem um público bem definido, que não é aquele que já habita e frequenta a região.
Projetos como este também se encontram em execução na Feira de São Joaquim, criando mais um "ponto turístico de visitação", esquecendo que as feiras são locais de abastecimento das casas, de alimentação de famílias, de manutenção de culturas e práticas sociais (este problema já existe em cidades como Barcelona). Mas estão transformando tudo em pseudo mercados, sofisticados, assemelhados a micro shoppings gastronômicos, voltados para uma parcela da população com maior poder de compra, assim como para comerciantes com maior poder de barganha. Aos poucos, os mais antigos e humildes perdem suas bancas e seus boxes. Aos poucos, os fregueses de menor poder aquisitivo, que não possuem carro, ou não podem pagar pelo estacionamento, têm que modificar seu local de compra para espaços ainda mais distantes. O abastecimento de alimentos para uma cidade é coisa séria e deve considerar toda a população, com todas as suas dificuldades, culturas, trocas sociais, costumes. Pelo projeto apresentado nas fotos, o Merc. São Miguel será totalmente destruído, dando lugar a um novo prédio. Perdem a história e o patrimônio cultural de Salvador ... A população da região aos poucos vai sendo substituída por outro perfil de cliente, que pode pagar estacionamento e pagar mais caro pelos insumos, cada vez menos originais, cada vez mais processados e prontos para consumo imediato. Vamos encontrar queijo europeu, vinho italiano, mas camarão seco ...
O crime da passarela e do volume do projeto, considerando o contexto do centro antigo, é absurdo e totalmente desproporcional - sem qualquer diálogo com a comunidade e com a arquitetura histórica que ali se encontra. Não, com certeza, Lelé nunca tomou uma aguardente no Mercado de São Miguel durante a festa de Iansã/Sta. Bárbara ... Nunca deve ter caminhado pelas ruas da Saúde ou ter comprado um pano de prato que seja nas lojas da Bx. dos sapateiros. Com certeza, nunca acessou aquela região andando ou de ônibus.
para que misturar os novos clientes solventes com os habitantes da Bx. dos Sapateiros, Saúde, Maciel, Barroquinha ? Tudo com o aval da prefeitura ... E do IPHAN Bahia ... e do IphanGovBr
( ao defensores do projeto, fica o espaço para críticas ou defesas sobre o projeto da passarela proposta por Lelé, a passarela do distanciamento social, pensada para "pular" interações e contatos da diferença ... )
Este vídeo é de 2015 e considera esta intervenção

Nenhum comentário:

Postar um comentário