LUIZ CARLOS MACIEL
COMENTÁRIO DO BLOGUEIRORemexendo papéis velhos, descobri escritos meus, feitos nos velhos anos 80 do século passado, sobre a questão da segurança pública. Achei graça. Com exceção de algumas referencias típicas da época e já lançadas ao lixo da História – coisas como o Esquadrão da Morte e que tais – tudo parecia escrito para os dias de hoje. Achei graça. Resolvi fazer um resumo daquelas observações antigas, apenas atualizando alguns detalhes, só para ver o que ia dar. Deu no que se segue.A paranoia, embora considerada cada vez mais “normal” pelas pessoas que se consideram, acima de tudo, “normais”, é uma doença perigosa. Ela também é violência, já que falam tanto em violência, e além disso é a mais destruidora porque é violência interna, infligida a si própria pela personalidade social sado-masoquista vigente em nossa estrutura social. É uma injúria ao instinto vital. O resultado desconcertante é que todo mundo fica com medo de todo mundo, cada um mais cheio de razões do que o outro. Se a gravidade de uma doença pode ser medida pela intensidade dos sintomas, nossa querida classe média parece estar se candidatando a, no mínimo, um internamento hospitalar, com eletrochoque e tudo. Essa gente parece estar simplesmente pirando com suas manifestações de rua, cartas à redação, passeatas ridículas e outras palhaçadas.No fundo, tudo se passa como se a paranoia estivesse sendo utilizada como instrumento de manipulação social. O atual mito da violência generalizada, com grades, luzes súbitas, serviços de segurança, estímulos neuróticos à violência policial e outras gracinhas no gênero, é um nítido procedimento totalitário de controle social. A essas gracinhas queremos agora acrescentar a redução da maioridade penal, a liberação de armas letais e a construção de novos e gigantescos presídios.Perdemos os pudores considerados de bom-tom, por motivos humanistas ou cristãos. Simplesmente afirmamos que devemos combater a violência com mais violência, pois a cura só pode estar no próprio veneno da doença. Secretários de segurança, políticos, policiais, juristas, militares e sacerdotes querem nos convencer que estamos em guerra. Contra quem? Contra os bandidos, naturalmente. Mas, na prática, essa guerra se estende a todos os pobres, movida pela paranoia coletiva que atinge principalmente a classe média. Conforme a polícia explica, não dá para distinguir num golpe de vista, um favelado trabalhador de um bandido traficante; o único jeito é meter bala nos dois. Na prática, a guerra é contra os pobres.Marilena Chauí, pensadora respeitável, tem razão em seu diagnóstico implacável sobre nossa classe média. É o óbvio ululante. Essas pessoas podem ser caracterizadas breve mas corretamente por sua inerente tendência à histeria, ao fanatismo e à auto-hipnose, consubstanciados numa visão fascista do mundo. Acredita-se que o homem comum é um democrata; na verdade, é um fascista – já dizia Bernard Shaw, naquele tempo.
Nunca concordei com o anátema a classe média. É ela que produz, que cria, inventa, vende e compra. Professores, médicos, advogados, arquitetos, comerciantes, editores são classe média. A roupa que Marilena Chauí veste, os restaurantes que ela frequenta os vizinhos do imóvel onde ela mora, são classe média. Mais um preconceito idiota.
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