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quinta-feira, 5 de março de 2015

QUEM É SÉRGIO MORO?

 Dono de estilo reservado e hábitos simples, o juiz da vara federal de  Curitiba entrou para a história do País ao levar executivos de  empreiteiras para a cadeia e se mostrar implacável no combate à > corrupção na política.Sempre que alguém o compara com Joaquim Barbosa,  ex-presidente do  Supremo Tribunal Federal, Sérgio Moro desconversa. Ou melhor, silencia.  O juiz da13ª vara federal criminal de Curitiba, que  ganhou notoriedade à  frente das investigações da Operação Lava-Jato,  não gosta desse tipo de  comparação nem de especulações sobre o seu futuro.  Há alguns anos,  rejeitou sondagens para se tornar desembargador, o que  para muitos é  degrau natural para galgar a última instância do  Judiciário. Moro  afastou-se da oferta por desconfiar de tentativa de  cooptação por parte  de um figurão da política nacional que temia virar  réu num inquérito que  chegou à sua mesa. Não fosse isso, ele daria outro  jeito de recusar a  oferta por acreditar que ainda há muito o que fazer  na primeira instância.  

 Eleito por ISTOÉ o “Brasileiro do Ano”, Moro não  mostra sedução pelo  poder da toga. De hábitos simples, ele faz parte de  uma rara safra de  juízes que encararam a magistratura como profissão  de fé.  Não dá entrevista, nem posa para fotos. Dispensa  privilégios. Vai para  o trabalho todos os dias a bordo de um velho Fiat Idea  2005, prata,  bastante sujo e repleto de livros jurídicos  empilhados no banco de trás.  Antes, chegou a ir de bicicleta.“Quando eu chego aos  lugares, ninguém  imagina que é o Sérgio Moro”, conta, sorrindo.  Apesar de ter se tornado o inimigo  número 1 de poderosos, prefere  andar sem guarda-costas. Quem  sempre reclama é a esposa, a advogada  Rosângela Wolff de Quadros Moro,  procuradora jurídica da Federação  Nacional das APAES, instituição  dedicada à inclusão social  de pessoas com  deficiência.
A “sra. Moro” teme pela segurança do marido, e dela mesma, afinal o  magistrado se mostrou implacável  com a corrupção ao encurralar integrantes do governo do PT e  levar, numa ação inédita, executivos  das maiores empreiteiras do País  à cadeia.  Nascido em Ponta Grossa há 42  anos, Moro é filho de Odete Starke  Moro com Dalton Áureo Moro,  professor de geografia da Universidade  de Estadual de Maringá – morto  em 2005.
Antes de ingressar na magistratura, seguiu os passos do pai. Integrou o mesmo Departamento  de Geografia da UEM e também deu  aula nos colégios Papa João XXIII e  Dr. Gastão Vidigal. Obteve os títulos de mestre e doutor em direito  do Estado pela Universidade Federal  do Paraná.  Seu orientador foi Marçal Justen  Filho, um dos mais  conceituados especialistas em licitações e contratos. Cursou o  Program of Instruction for Lawyers  na prestigiada Harvard Law School  e participou de programas de  estudos sobre lavagem de dinheiro no International Visitors Program,  promovido pelo Departamento de  Estado americano. Moro criou varas  especializadas em crimes  financeiros na Justiça Federal e  traz no currículo outras operações  de peso.
 Presidiu o inquérito da operação Farol da Colina, que desmontou uma rede de 60 doleiros, entre eles Alberto Youssef. A investigação for a um desdobramento do caso Banestado,  que apurou a evasão de US$ 30  bilhões de políticos por meio das  chamadas contas CC5. Ciente de que os mecanismos de lavagem de dinheiro evoluem e se tornam cada vez mais complexos, Moro não para de estudar.
É um aficionado pela histórica  "Operação Mãos Limpas”. Quando a compara com a Lava Jato,  não tem dúvidas:  "É apenas o começo”. O caso que marcou para sempre a política  italiana foi deflagrado por um  acordo de delação, mecanismo  inaugurado anos antes nos processos  contra a máfia. Após dois anos  de investigações, a Justiça  italiana havia expedido 2.993 mandados  de prisão contra empresários e  centenas de parlamentares, dentre os  quais quatro ex-premiês. Num artigo sobre o caso italiano em  2004,
Moro exalta os chamados  “pretori d’assalto”, ou  “juízes de ataque”, geração de magistrados  dos anos 1970 na Itália que  ganharam espécie e legitimidade ao usar  a lei para “reduzir a injustiça social”, tomar “posturas  antigovernamentais” e muitas  vezes agir “em substituição a um poder  político impotente”. O juiz se  identifica com essa geração e vê no  Brasil de hoje um cenário  semelhante e propício ao combate à corrupção.

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