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sexta-feira, 20 de março de 2015

JUÍZES PELA DEMOCRACIA

Comparecer na frente de um juiz deve ser muito inconfortável. Ele lá em cima, atrás de uma mesa imensa, e você cá embaixo, esmagado pela imponência do momento. E não é que aconteceu exatamente o contrário num sábado de março, quando do II Encontros de Juízes pela Democracia?

 Convidado como ativista (?!) para falar de meus insistentes protestos sobre habitação e patrimônio cultural, de repente me vi sentado na mesma imensa mesa, agora ocupada por verdadeiros ativistas como o Hamilton do “Reaja ou será morto”, ou como o cacique tupinambá Babau defendendo a preservação da cultura e das terras de seu povo. Eles vivem diariamente o drama anunciado. Eu, branco e morando bem, não passo de observador crítico. Diferença abismal. 

Lá embaixo, uns trinta ou mais juízes, ouvindo. O momento não é de julgamento, mas de expor as ensangüentadas feridas causadas por omissos poderes governamentais em questões essenciais à evolução harmônica da sociedade. Acredito, porém, ter conseguido expressar minha indignação pelos 1.500 imóveis vazios e abandonados no centro histórico de Salvador, enquanto seres humanos absurdamente excluídos moram em casebres nas encostas, enquanto se tenta desalojar os moradores, artesãos e trabalhadores dos arcos da Ladeira da Conceição da Praia. Gentrificação primária e contraproducente. 

Existe, nos diversos setores das três instâncias, uma enorme carência de humanistas e de gente de cultura, e um excesso de tecnocratas e burocratas. Isto, sem falar nos oportunistas e papagaios de piratas que infestam as ante-salas dos gabinetes oficiais.


É bom, é saudável que uma parte da sociedade consciente tão significativa como a destes juízes pela democracia esteja atenta ao clamor dos anônimos, dos excluídos, dos injustiçados. Não se trata de palavreado de anarquista sonhador ou comunista saudosista, mas de quem se preocupa com tão vergonhoso desequilíbrio. Não podemos continuar eternamente cegos e surdos.

Um comentário:

  1. Faz muitos anos que os juízes não mais se sentam em tablados, bem distantes dos mortais. Aqui na Bahia - sempre atrasada - é que a sala do Tribunal do Júri e somente ela, é que ainda mantém o tablado, o que se justifica até por causa do espaço que os advogados precisam para se movimentar em suas defesas /acusações.
    Sou mãe de uma juíza federal.

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