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terça-feira, 5 de agosto de 2014

NO LABIRINTO DOS EDITAIS

Nunca tive a menor afinidade com burocracia e papelada. Assim que nunca consegui entender  com clareza como funcionam os editais. Hoje você tropeça nesta palavra a cada instante, especialmente nos meios ligados a cultura.
O que é um edital? Para as autoridades uma forma democrática de realisar projetos. Para outros uma excelente forma dos responsáveis pela cultura empurrar com a barriga e nunca enfrentar polémicas.
Assim que no final de cada ano recebo, em casa e com serviço personalizado de entrega, um monte de livros que ninguem leu, CDs que ninguem ouvirá nunca e DVDs de artistas que seguirão desconhecidos. Com os votos de felicidade para o Ano Novo da Secretaria de Cultura.
Tudo pago com nosso dinheiro.
Como funciona este belo exemplo de democracia? O secretário escolhe meia dúzia de “especialistas” para analizar os projetos, dentro dos magros orçamentos previstos, dá um prazo para a seleção dos contemplados e, depois algum tempo, publica os resultados, aguardando apláusos.
O problema, quando é assunto estadual ou municipal, reside na escolha dos jurados. Anônimos ou não, numa boa terrinha como a nossa, sempre acaba filtrando informações de fora para dentro e vice-versa. Primo, madrinha, cunhado, colega, cada um tem lá seus porquês que a ética oficial desconhece, a carne é fraca e ninguem é de ferro.
Posso dar um exemplo.
Em fins de Agosto fui até o atelier do Murilo, lá na rua do Carmo, falar de uma ideia que ocupava minha cuca durante minhas insônias. Usar as paredes dos dois imóveis do Plano Inclinado do Pilar para retratar os dois maiores eventos do bairro de Santo Antônio: O desfile do 2 de Julho na parte de cima, junto a Cruz do Pascoal, e, na parte inferior, a procissão de Santa Luzia.
Vãrios argumentos a favor deste projeto:
O Murilo é o único artista que usa, na Bahia, uma linguagem figurativa, despojada de artifícios, para retratar o povo baiano. É um contador de histórias que podemos colocar algures entre os gravadores de literatura de cordel nordestinos e os muralistas mexicanos como Diego Rivera ou David Siqueiros.
O bairro de Santo Antônio está evoluindo de referência turística para reduto da boemia soteropolitana. Cada semana, mais artistas, jornalistas, poetas, atores e cineastas vêm morar, abrir uma galeria ou um espaço cultural.
O Plano Inclinado pode ser muito mais que um bondinho. Pode se transformar em obligatório ponto de convergência popular e turistico.
O Santo Antônio pode ser nosso Bairro Alto, nosso Marais, nosso San Telmo. É só haver um pequeno incentivo das autoridades.
Pois é... O Murilo gostou do desafio. Entrou num edital municipal para conseguir os modestos R$30 mil que seriam invetidos no aluguel dos andáimes, na compra dos pinceis e tintas. Retribuição pessoal? Nenhuma. Trabalharia de graça.
Se fosse uma encomenda, para realisar tal obra numa superficie superior á 120 m2, nenhum artista no auge de sua profissão aceitaria menos de R$300.000,00.
Mas os tais jurados acharam a proposta de pouco interesse para a comunidade. Não sei quem são nem quero saber. Mais uma vez deram aqui uma prova do provincianismo vigente na primeira capital do Brasil e a cidade perdeu uma bela oportunidade de enriquecer seu patrimônio artístico.
Sorria...


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