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sábado, 9 de agosto de 2014

GEREBA FALA DE ARIANO

Nas muitas andanças e lembranças que trago ao longo da minha vida c omo tocador de violão por “este Brasil veio cheio de ladeira e de buraco” (Bule Bule), a satisfação de encontrar com grandes personalidades da nossa preciosa cultura brasileira.

 Cada uma dela me deixou uma marca diferente. Hoje falo de Ariano Suassuna. 
O meu primeiro contato com ele, com o seu jeito matuto e sincero de ser, me fez refletir sobre o meu próprio valor como compositor e tocador, foi uma benção para a minha auto estima num período de começo de carreira. 
Ainda nos anos 70, estive em Recife para um show palestra sobre literatura e música na inauguração da Galeria Maria Fulô, evento organizado pelo histórico boêmio e grande tocador de caixa de fósforos, o maior que conheci, o pernambucano Artur de Lima Cavalcante. Havia conhecido o Artur dias antes no Rio, quando me acompanhou tocando sua caixinha de fósforo num dos Saraus na casa do jornalista e diretor da Revista Manchete, Darwin Brandão, onde estiveram reunidos vários intelectuais – lembro bem do Saldanha, Antonio Callado, Paulinho Soledade, Tom Jobim, Niemeyer, Zuenir Ventura, entre outros -, para recepcionar o então futuro Primeiro Ministro de Portugal, Mario Soares. 

Neste Sarau o Artur me convidou para o evento da Galeria Maria Fulô, com quem fui com o amigo e escritor Antonio Callado para realizar um show palestra. Após o show, recebemos no camarim grandes figuras da cultura pernambucana. No meio delas, uma, em especial, me chamou a atenção pelo jeitão matuto no meio daquela gente bem vestida e elegante: um cidadão alto, de camisa de brim caqui, cabelo curto tipo recruta e sandália de couro. Um típico homem da roça. 
Ele veio diretamente a mim, me deu um abraço forte e disse: “Você me tocou profundamente mostrando suas músicas sobre o Sertão de Canudos e Antonio Conselheiro. Nem precisava tocar as músicas do Luiz Gonzaga”. 
Aquilo me emocionou tanto que me fazer corar. Olhe que eu não tinha a menor idéia de quem era aquele homem. Quando ele saiu, alguém me cochichou na orelha: Este é o Ariano Suassuna. Fiquei mais emocionado ainda, quis correr atrás dele para lhe dar o meu disco, mas ele já havia sumido e nunca mais tive a chance de reencontrá-lo. Ainda guardo essa doce lembrança desse homem simples, mas de uma sinceridade e riqueza cultural impressionante! 
Hoje ele partiu pro andar de cima, mas é imortal - não só porque foi da Academia Brasileira de Letras, mas por sua vasta contribuição para a cultura brasileira e nordestina.
 Ele nunca vai saber o quanto especial ele foi para mim naquele dia e como suas palavras me fizeram um bem danado.
Salve o nosso Ariano, o inimitável.

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