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sábado, 14 de junho de 2014

PIRATAS E ESCRAVOS

Servi o exército francês durante a guerra da Argélia, mas nunca peguei arma, nunca matei ninguém. Durante a maior parte de meus 26 meses de farda, minhas únicas armas foram caneta e Rolleiflex como jornalista- fotógrafo a serviço de uma revista militar que não merece a mínima lembrança, mas teve a imensa vantagem de possibilitar o conhecimento de um país fascinante.

Certa vez, em Tamanrasset, no meio do deserto, fui, com outro militar, convidado a beber o tradicional chá de hortelã na tenda de um chefe tuaregue cuja caravana acampava perto da cidade. 
Durante a conversa, o imponente homem azul, ao ver entrar uma criança de uns dois anos, pegou um chicote e deu uma sonora pancada no tapete bem perto do menino que, assustado, correu para fora. “Filho de escrava” declarou com calma. Mais tarde nos invitaria gentilmente a acompanhar-lo até o Niger. Partiríamos na semana seguinte. Com a maior tranqüilidade completou “Vamos comprar escravos”. 
Comovidos por tamanho convite, lembramos que estávamos a serviço do governo francês e tínhamos outra missão. Saímos da imensa tenda aturdidos, desorientados pela constrangedora proposta. 
Mais tarde eu mesmo iria fotografar escravos no Saara.  

 A escravidão existiu e ainda existe em muitas sociedades arcaicas. Calcula-se que em quatro séculos, um milhão de europeus foi escravizado pelos mouros. O próprio Miguel de Cervantes, antes de escrever “Dom Quixote” fora capturado em 1575 por piratas e passaria cinco anos em Argel, só sendo libertado após pagamento de resgate pelo rei da Espanha.


Em viagem oficial do presidente do Benin a Bahia (2012), fazia parte da comitiva o atual Chachá, título nobiliário oficioso do oitavo descendente de um dos maiores traficantes de escravos do século XIX, o brasileiro Francisco de Souza que enriqueceu com o parceiro, rei de Abomei. 
Alguém aqui reclamou de sua presença?


Exibindo DSCN6126.JPG

O CHACHÁ ATUAL COM O IRMÃO MAIS VELHO, AQUELE QUE DEVERIA TER SIDO O CHACHA 8 MAS TERIA QUE PAGAR UMA DÍVIDA AO REI DE ABOMEI:  DEIXOU O TÍTULO AO IRMÃO MAIS NOVO, MUITO MAIS RICO, CUJO APELIDO "MONSIEUR ALUMINIUM" POR TER ENRIQUECIDO COM PORTAS E JANELAS DE ALUMÍNIO.

NOTEM QUE A PRAÇA CHACHÁ NÃO É OUTRA SENÃO AQUELA DE ONDE PARTIAM OS ESCRAVOS PARA O NOVO MUNDO. 

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