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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

O COMEÇO DO FIM DAS FESTAS DE LARGO

FOTOGRAFIA DE ADENOR GONDIM

Em 2012 a TVE ainda não tinha passado para a Secretaria Estadual de Comunicação da Bahia. Em Outubro, uma equipe veio até minha casa no bairro de Santo Antônio para me entrevistar sobre as festas de largo de Salvador. Justamente um de meus temas preferidos nesta cultura popular tão maltratada por nossas bandas.

Escolhida uma varanda com vista para a baia, fui falando das belezas que eram as festas nos anos 70, 80 até os primeiros anos de 90 e de meu empenho em tentar manter uma expressão já ameaçada.  Com a ajuda do diretor da Suvinil na Bahia, o pequeno grupo que eu convidara para selecionar as mais belas barracas se empenhou nesta louvável e inútil tarefa de lutar contra o tsunami da mediocridade e da massificação. Eram os jurados do Prêmio Flexa: Goya Lopes, Ana-Meire Aguiar, Adenor Gondim, Murilo Ribeiro e Justino Marinho.

Conversa vai, conversa vem com o jornalista – enquanto a câmera registrava - chegou a pergunta que não podia calar: “Quem acabou com a estética das barracas das festas de largo?”

A resposta veio rápida e segura.                                                         Lembro-me exatamente do momento que constatei o desastre. Foi no princípio de Dezembro de 1995. Tinha ido ao Mercado Modelo com a Goya e na saída pela porta em direção ao Elevador Lacerda, me deparei com a “padronização” das barracas. A bela festa da Conceição tinha-se transformado em feira de comes e bebes. O choque foi tamanho, que minhas pernas não mais me podiam suportar. Sentei no meio-fio e chorei. Chorei feito criança. Nada ficara do encanto das festas antigas. Todo meu trabalho não servira para nada.

Quem tinha assinado o absurdo decreto e assassinado uma das mais fortes expressões de cultura popular do nordeste brasileiro? A prefeita do momento, Lídice da Mata.
O problema é que a TVE estava – e está - sob o controle do PT, aliado ao PSB do qual esta senhora parece ser a presidente.

Em Março de 2013, encontrando no saguão do Glauber Rocha / Itau o responsável pela matéria – calemos amavelmente o nome – este me perguntou “Venha cá Dimitri, quem padronizou as barracas foi o Imbassahy, não é?”. Mantive firme minha certeza e respondi “Não, Fulano. Foi Lídice da Mata.”

A reportagem nunca sairá, pelo menos durante o império atual.


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