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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

CULTURAS DO AUTORITARISMO...

... em tempos contemporâneos, 1

márcio correia campos
É carnaval em Salvador e você que tomar uma cerveja: você vai
 de isopor em isopor, de balcão de bar em balcão de bar, e não vai
 conseguir tomar a cerveja que você queira, você só encontrará 
uma única marca (e, pelo visto, será aquela que parece mais água
 amarela que bebida alcóolica). Está desenhado para ser assim e, 
mesmo que fosse a melhor das cervejas, você não terá como escolher
 a que você costuma tomar.
Acontece que, apesar de décadas de sufoco, o lugar do carnaval
(ainda) é a rua - e mesmo que um dia retirem das ruas os 
elementos produtores de lucro às custas do carnaval da rua, 
o carnaval de e na rua continuará a existir, porque ele é muito 
anterior a isso - e a rua é o espaço do público e do comum, 
é o lugar a que todos têm o direito de ter acesso por definição; 
o lugar do livre comércio inclusive, onde no dia-a-dia da cidade, 
caminhando pelas calçadas, é possível ter acesso a todos os produtos,
 inclusive todas as marcas de cerveja.
Se não for assim, temos a rua sitiada: estará impedido em sua 
funcionalização mais do que simbólica o lugar fundamental
 a possibilidade de livre pensamento e de livre circulação e 
associação de pessoas e ideias.
 Entre as liberdades da rua, está obivamente a liberdade de escolha,
 inclusive de escolha do que comprar.
É interessante perceber que o clima social e político que trata 
de monstrações críticas a bala, cassetete e prisão cerceia o livre 
comércio desta maneira. 
Não há nenhuma contradição nesta atitude, é o autoritarismo 
recrudescendo em várias frentes.
Há mesmo uma cultura política terrivelmente estabelecida no
 país que toma como pressuposto de ação o aniquilamento 
das liberdades individuais - inclusive a da escolha da cerveja
 que cada um queira tomar - em troca de um bem-comum às vezes
 apenas sugerido (como, por exemplo, a ideia de que as contas 
públicas não são afetadas por determinados investimentos em troca
 de patrocínios); do jeito que vai, logo, logo não somente 
a cerveja será única.

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