Páginas

sexta-feira, 5 de julho de 2013

DE AZULEJOS E BIGODES

Fim de junho, passei cinco dias em São Luís do Maranhão. Anos que eu desejava conhecer seu tão famoso bumba-meu-boi! 
Fiquei maravilhado com esta festa. 
Hospedado numa charmosa pousada do centro histórico 


– a Casa Lavínia – 
percorri as antigas ruas e praças de cabo a rabo. Difícil é falar do encanto da ilha que abriga a velha capital. 
De forma geral ela obedece ao rigor de um planejamento urbanístico em xadrez, com ruas que se cruzam em ângulos retos, como é tão freqüente em cidades coloniais hispânicas da América Latina. 

Qualquer monotonia será interrompida por escadarias e ladeiras, pontuando agradavelmente o passeio.
Surpreendem os imensos casarões – uns poucos do século XVIII, mas quase todos do século XIX - alguns do tamanho de um quarteirão inteiro. 




A maioria das fachadas é revestida de azulejos, dos séculos XVIII e XIX, geralmente portugueses  e, infelizmente, com freqüência mal conservados. 

Vez ou outra um edifício Art Deco ou Nouveau desloca a regularidade estilística do conjunto, de inspiração pombalina.



A extraordinária Escola de Música, o cinema Roxy... 



...são especialmente vistosos. 

Destoando de forma agressiva, três ou quatro monstrengos do tipo espigão cuja construção, dizem, fora autorizada pelo coronel José Sarney anda nos anos 70, indicam sua pouca sensibilidade pela memória maranhense deste senador do Amapá.


Vários imóveis ostentam na fachada grandes cartazes do Governo Federal ou do IPHAN, prometendo rápida reabilitação, como o futuro (?) Museu da Gastronomia




Eis o estado do museu! Há quanto tempo?

180 dias... a partir de quando?






















Mas por ernquanto, a tal praça continua servindo de apoio para mictórios...

Prometem a finalização da obra em 180 dias, mas sem data para iniciar ou orçamento. A grande maioria, como o ambicioso Museu da Gastronomia, permanece abandonada por anos. Outro exemplo é o futuro (?) Museu da Língua Portuguesa, na Rua do Giz, longo e elegante casarão pintado de verde, mais adormecido que o castelo da Bela.




Não faltam agressões a edifícios neste bairro tombado pela Unesco. Agressões estas que não parecem incomodar o IPHAN local. 







Grandes imóveis localizados em locais relevantes, completamente abandonados. 
O altar-mor da igreja de N-S do Carmo – em obras - sem a mínima proteção contra o sol e a chuva. 



Restaurações feitas nas coxas, como a do cinema Roxy que mal inaugurado – em Outubro 2012, viu seu teto quase desabar após seis meses e hoje está fechado
O Convento das Mercês abocanhado pelo Sarney, devolvido, recuperado novamente para satisfazer a megalomania do velho bigodudo, arrota importância numa praça totalmente desleixada.  Visita desaconselhada, pois só conserva, ao que parece, os presentes oficiais de governantes estrangeiros, de modo geral de deprimente mau gosto.



E, enquanto o tal convento-mausoleu é mantido com verbas públicas, do outro lado da praça...




Mais uma vez, a pergunta: "Para que serve o IPHAN?” se apresenta como incontornável. 
As falhas desta instituição são tão corriqueiras que se torna evidente a necessidade de uma profunda reforma estrutural. 
As presidências são oferecidas a pessoas “de confiança” do Ministério da Cultura, nem sempre de competência comprovada. 
Acrescentemos a kafkiana burocracia e verbas poucas, e teremos uma máquina monstruosa que se desloca com uma má vontade crônica, incapaz de enfrentar a complexidade da salvaguarda do patrimônio material quanto mais do imaterial.
Para exemplificar minhas afirmações, aqui temos uma foto de solução “armengada”.


Onde se encontra esta casa? Exatamente no passeio oposto a sede do IPHAN em São Luís do Maranhão, na Rua do Giz.
Dá para acreditar tamanha omissão? 

Mas os problemas não param tão cedo. 

Quem autorizou esta caixa-d´água girafa? Dizem que ela foi construída somente para abastecer a delegacia do centro histórico. Com autorização de quem?
Examinando com atenção poderão constatar os inúmeros "gatos" que mandam água a toda a vizinhança. Quem paga o prejuízo?  Os contribuintes, claro!
Estas são observações de quem só esteve na bela ilha durante menos de cinco dias.
Imaginem se ficasse um mês!

3 comentários:

  1. Falou a verdade pura! Lindas as fotos. Parabéns!
    Manlio Macchiavello

    ResponderExcluir
  2. Fotos e comentários de quem realmente entende do assunto.
    Um libelo acusatório de grande valor, em face da verdade.
    Parabéns Dimitri.
    Climério Andrade

    ResponderExcluir
  3. Excelente blog, Dimitri!
    Parabéns!
    Abraço,

    João do Rio (Clarindo).

    ResponderExcluir