segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

O BRASIL MARAVILHOSO...


Espectadores têm aplaudido de pé o documentário "Chico (Buarque): artista brasileiro". 

Com leveza, argúcia, a genialidade habitual, Luis Fernando Veríssimo decifra a reação que se repete país afora. 

Para além da obra e talentos de Chico, Veríssimo nota: 

-Talvez seja uma espécie de autocongratulação do público por se sentir numa clareira de talento e sensibilidade em meio à estupidez crescente...

É "o Brasil que ainda não desistiu do Brasil aplaudindo a si mesmo", percebe Veríssimo. 

Há um Brasil que, desde sempre, anuncia ter desistido do Brasil. Aos brados pontifica sobre um Brasil imprestável, vergonhoso.

Esse Brasil que desiste do Brasil tem o seu Brasil particular. E esse seria uma maravilha. Bandeira, hino, tornaram-se propriedades desse Brasil privado que habita no Brasil.

Êxitos são produtos exclusivos deste Brasil. Fracassos, crises, são sempre frutos do Brasil imprestável.

A seleção toma de 7? Que vergonha! Mas que orgulho, longe das arquibancadas, desfilar a camiseta amarela da CBF do Havelange, do Teixeira, do Marin e do Del Nero.




O Sistema político-partidário podre e os que o corrompem pertencem apenas ao Outro Brasil. Nunca ao Brasil impoluto, constituído só por "gente de bem".

Esse Brasil nada tem a ver com quase 60 mil homicídios/ano. E nem imagina mais de meio trilhão de dólares escondidos em paraísos fiscais. 

Como não sabe quem deve mais de R$ 1 trilhão e 500 bilhões em impostos, dívida inscrita na União. 

Esse Brasil desconhece que alianças forjaram o empreiteirismo que agora está na cadeia. Ou demais banditismos que secularmente, e impunes, mamaram, mamam no Estado.

Como financiar SUS, Ensino Público, Previdência...? Ora, isso é problema para o Outro Brasil; aquele da vergonhosa voracidade estatal.

Dos mais de 7 bilhões de humanos, apenas 400 pessoas acumulam US$ 3,9 trilhões. Isso é mais do que produzem TODOS os países do mundo, à exceção dos EUA, China e Japão. 

Os Brasis emulam esse mundo desigual, e coabitam. 

Que ideias generosas, articulações sociais profundas, o Brasil maravilhoso tem a oferecer ao Brasil vergonhoso? Ao Brasil que só pode se orgulhar de si, se aplaudir, no escurinho do cinema.

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